Um Cidadão Exemplar, por Carlos Antunes

Título original: Law Abiding Citizen
Realização: F. Gary Gray
Argumento: Kurt Wimmer

Elenco: Jamie Foxx e Gerard Butler

Um Cidadão Exemplar constrói o thriller a partir do ponto inverso ao comum. Se o culpado já está preso, como poderá ele efectuar cada um dos passos do seu plano?
E contra quem aplica o seu plano Clyde Shelton (Gerard Butler)? Contra Nick Rice (Jamie Foxx), o advogado que fez um acordo com um dos assassinos da família de Shelton, mas na verdade, contra todo o sistema legal americano e as suas concessões de moral em nome de uma "justiça possível" contra aquilo que deveria ser a defesa absoluta da Justiça.

Este é um thriller que decorre no mais estreito corredor de plausibilidade, mas que com isso mesmo consegue arrancar uma longa e interessante sequência onde o suspense é palpável, mesmo que o espectador não deixe já de se debater com alguns pormenores e situações.
No entanto, estamos dispostos a deixar-nos levar, sobretudo porque o suspense se cria sem necessidade de nos dar falsas indicações nem distorcer o que nos é apresentado. Aqui a situação é claramente intrigante por si própria e suficientemente bem gerida perante o espectador.
Isto até chegar o momento final em que é necessário dar uma resolução à rede que foi montada.
Não só o mecanismo de suspense é rapidamente desbaratado como o limite de sustentabilidade da dúvida é ultrapasso de forma gritante e inaplacável.
O filme que fora até aí transforma-se num truque barato sem vergonha de mostrar os remendos que o sustêm.
O email surgido como um milagre e a discrepância do tempo deitam a perder tudo o de bom havia sido visto antes.

Tirando o final, o outro problema do filme é Jamie Foxx que continua, a cada projecto, a mostrar-se um actor sem estofo nem vontade, atravessando o filme com o mínimo de dedicação e nenhum verdadeiro investimento nas suas personagens. Se excluirmos os trabalhos com Michael Mann, podemos ser benevolentes o suficiente para aceitar que a sua interpretação foi relevante em Ray e Dreamgirls.
Felizmente Gerard Butler consegue o efeito exactamente oposto, parecendo passar com facilidade de papel para papel, sempre convincente, sempre empático para com o espectador.
Ele é a distinção num filme que, mesmo enquanto é bom, não tem propriamente um traço distintivo na sua execução, apenas uma eficácia honesta.

Mesmo com um desequilíbrio entre os seus dois actores centrais, a conclusão que se tira é que com outro final, um que sustentasse a lógica periclitante em vez de a deitar fora numa resolução perfeitamente absurda, este seria um filme que sobreviveria a um segundo olhar.
Com o final que tem, é um filme que entretém durante um período limitado e que desaponta quando devia resolver as expectativas.