Realização: Ethan Coen e Joel Coen
Argumento: Ethan Coen e Joel Coen
Há cineastas que ganham estatuto e após essa atribuição quase espontânea, a verdade é que é difícil tirar-lhes mérito em qualquer produção que nos tragam. É o caso dos irmãos Coen, que depois de filmes como Fargo (1996), O Brother, Where Art Thou? (2000) e No Country for Old Men (2007), por mais que desiludam ou fiquem aquém das expectativas têm sempre uma hoste de fãs e críticos do seu lado. Foi o caso em 2008 de Burn After Reading e este ano com A Serious Man.
É o desejado regresso às comédias negras, cheio de apontamentos absolutamente geniais, numa espécie de fábula moral, inspirado em acontecimentos bíblicos. O protagonista é um homem judeu, com uma vida aparentemente bem-sucedida e medianamente feliz, mas cujo mundo começa a ruir subitamente. Esta premissa dá origem a uma satírica viagem ao universo judaico-americano dos anos 60. E se todos os elementos de tragicomédia estão presentes e dão origem a cenas memoráveis – veja-se a cena do bar mitzvah ou a cena inicial do walkman apreendido – a verdade é que falta a Um Homem Sério algo que lhe permita ganhar um sentido na cabeça do espectador.
Perdendo um ritmo mais corporal e rumando a um domínio espiritual que, de facto, dá origem a situações bizarras e hilariantes na sua serenidade, Um Homem Sério prima pela qualidade técnica e trabalho de realização. Aliás, este é um dos trabalhos recentes de Joel e Ethan Coen cuja realização mais nos fascina, pelo uso inteligente da câmara e que confirma a maturidade do trabalho dos cineastas. No domínio técnico, a fotografia de Roger Deakins (Revolutionary Road) é o mais deslumbrante de todo o filme, com planos belos, cores intensas e tons ocres que resultam bastante bem. Ou ainda nos podemos referir à excelente banda sonora da autoria de Carter Burwell, que tal como Roger Deakins, já trabalhou várias vezes com os irmãos Coen.
Já quanto às interpretações, a grande surpresa vem do protagonista Michael Stuhlbarg, praticamente desconhecido do grande público, mas que traz uma lição de profissionalismo a muitos actores de currículo invejável. O seu Lawrence Larry Gopnik integra de imediato a lista das melhores personagens do bizarro universo dos Coen. Um homem desesperado e intrigado perante as injustiças da vida e à semelhança do personagem bíblico Jó, tenta suportar todo o rol de desgraças que se lhe abatem repentinamente. A par da sequência inicial que reconstitui uma história do folclore judaico é este actor que traz das melhores cenas do filme.
E na verdade, é com a excelência técnica e o desempenho de Michael Stuhlbarg que o filme se destaca. Porque na componente narrativa, Um Homem Sério acaba por ser apenas um desfile de situações e personagens caricatas e bizarras, satírico e simbólico, mas que se perde precisamente na indefinição do seu objectivo. O espectador chega ao fim com a sensação que assistiu a um bom filme, mas que no fim de contas é um exercício de estilo meramente oco, um show de bizarrias, uma sátira a algo que parece definido, mas que no fim de contas é tão incerto, sem qualquer propósito. Um Homem Sério segue a linha do humor negro dos Coen, mas perde-se demasiado na arrogância e no estatuto que adquiriram ao longo dos anos.
É o desejado regresso às comédias negras, cheio de apontamentos absolutamente geniais, numa espécie de fábula moral, inspirado em acontecimentos bíblicos. O protagonista é um homem judeu, com uma vida aparentemente bem-sucedida e medianamente feliz, mas cujo mundo começa a ruir subitamente. Esta premissa dá origem a uma satírica viagem ao universo judaico-americano dos anos 60. E se todos os elementos de tragicomédia estão presentes e dão origem a cenas memoráveis – veja-se a cena do bar mitzvah ou a cena inicial do walkman apreendido – a verdade é que falta a Um Homem Sério algo que lhe permita ganhar um sentido na cabeça do espectador.
Perdendo um ritmo mais corporal e rumando a um domínio espiritual que, de facto, dá origem a situações bizarras e hilariantes na sua serenidade, Um Homem Sério prima pela qualidade técnica e trabalho de realização. Aliás, este é um dos trabalhos recentes de Joel e Ethan Coen cuja realização mais nos fascina, pelo uso inteligente da câmara e que confirma a maturidade do trabalho dos cineastas. No domínio técnico, a fotografia de Roger Deakins (Revolutionary Road) é o mais deslumbrante de todo o filme, com planos belos, cores intensas e tons ocres que resultam bastante bem. Ou ainda nos podemos referir à excelente banda sonora da autoria de Carter Burwell, que tal como Roger Deakins, já trabalhou várias vezes com os irmãos Coen.
Já quanto às interpretações, a grande surpresa vem do protagonista Michael Stuhlbarg, praticamente desconhecido do grande público, mas que traz uma lição de profissionalismo a muitos actores de currículo invejável. O seu Lawrence Larry Gopnik integra de imediato a lista das melhores personagens do bizarro universo dos Coen. Um homem desesperado e intrigado perante as injustiças da vida e à semelhança do personagem bíblico Jó, tenta suportar todo o rol de desgraças que se lhe abatem repentinamente. A par da sequência inicial que reconstitui uma história do folclore judaico é este actor que traz das melhores cenas do filme.
E na verdade, é com a excelência técnica e o desempenho de Michael Stuhlbarg que o filme se destaca. Porque na componente narrativa, Um Homem Sério acaba por ser apenas um desfile de situações e personagens caricatas e bizarras, satírico e simbólico, mas que se perde precisamente na indefinição do seu objectivo. O espectador chega ao fim com a sensação que assistiu a um bom filme, mas que no fim de contas é um exercício de estilo meramente oco, um show de bizarrias, uma sátira a algo que parece definido, mas que no fim de contas é tão incerto, sem qualquer propósito. Um Homem Sério segue a linha do humor negro dos Coen, mas perde-se demasiado na arrogância e no estatuto que adquiriram ao longo dos anos.
Classificação:
A mim desiludiu-me, mas pode ser que gostes. :)
ResponderEliminarNão é o melhor dos irmãos Coen, mas pronto.
ResponderEliminarEm relação ao humor negro, concordo...
Abraço
Cinema as my World
Grande revisão Boardwalk Empire com Michael S. Stuhlbarg não poderia concordar mais. É uma obra-prima na fabricação.
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