quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um Lugar Para Viver, por Carlos Antunes


Título original: Away We Go
Realização: Sam Mendes
Argumento:
Dave Eggers e Vendela Vida
Elenco: John Krasinski, Maya Rudolph, Catherine O'Hara, Jeff Daniels e Maggie Gyllenhaal

É mentira que aqui se procure um lugar para viver. Aqui procura-se na verdade um lar, um local onde um casal surpreendido por um filho prestes a nascer possa ter o apoio e a inspiração para dar a resposta conveniente ao que lhes está a suceder.


Eles percorrem as cidades da América do Norte em busca de um lugar que seja, até certo ponto, familiar pela presença de um casal amigo. Casal esse já com a experiência da paternidade.
Enquanto percorrem as cidades, percorrem igualmente os modelos familiares mais díspares.
A sua busca é uma visão transversal da realidade, dos problemas que assombram todas as estruturas familiares e das felicidades que, ainda assim, estas proporcionam.


O que lhes custa a perceber, mas a que eventualmente chegam, é que o lar não é um local onde possam contar com alguém que já conhecem.
O lar é o local que lhes fala particularmente e onde podem e têm de estar sozinhos, com a sua aprendizagem pela frente - com tantos erros e felicidades como os restantes modelos familiares que viram - e sem soluções que não construam eles próprios por tentativa e erro.
O lar é o espaço onde são eles próprios, não aquele onde um outro imaginário lhes rege o comportamento como pais.


O filme está filmado em capítulos, segmentos de busca, que ficam como segmentos de ensinamento individualizados, mas que se somam num retrato mais abrangente.
A leve gargalhada - dita indie embora seja apenas uma apropriação inteligente - com que o filme é feito atenua o sentimento de confusão e medo que todos os que já foram pais reconhecerão melhor, mas que será evidente para qualquer espectador.
A sensibilidade do tema, bem como o cuidado que Sam Mendes lhe dedica não ficam senão deliciosamente envoltos nesta descontração que ajuda a ganhar um filme de dimensão pessoal.
Um daqueles pequenos achados com imensas riquezas dentro.



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