quinta-feira, 1 de julho de 2010

Harry Potter: dos livros ao grande ecrã


Harry Potter chegou ao mundo em 1997 e a Portugal em fins de 1999 pelas mãos da Editorial Presença, inserido numa colecção na altura recente e com pouca visibilidade. Contudo, a verdade é que chegado o ano 2000 o início da saga já se tinha tornado um exemplo crónico de popularidade, e assim continua até aos dias de hoje.

Anunciado como literatura infanto-juvenil, os livros são, na realidade, bastante mais obscuros do que deveriam ser para estarem assim catalogados. Aliás, a tendência para "piorar" neste sentido é crescente ao longo dos livros. Enquanto que nas pessoas da minha geração que apanharam o primeiro livro no início da adolescência e acabaram a ler o último já na faculdade essa obscuridade crescente tornou os livros interessantes, para os que estão agora a chegar à fase de começar a ler os livros e o vão fazer em muito menos tempo, talvez essa tendência não seja positiva.

Contudo, há que ressalvar que sou apologista da saga (aliás, o último livro acabei por lê-lo no verão na versão original para não ter de esperar 3 ou 4 meses, altura em que já teriam recomeçado as aulas na faculdade) e há também que dar os créditos a J. K. Rowling por ter levado muita criança e adulto a ler livros relativamente grandes. É, de facto, o único caso em que me lembro de existirem duas capas diferentes para cada livro, uma para adultos e uma para crianças. Também a destacar, desta vez pelo lado negativo, é o mau trabalho efectuado pelos tradutores portugueses. No decurso de uma saga editada ao longo de alguns anos, é natural que exista mais do que um tradutor. Contudo, sendo este um mundo totalmente à parte de tudo o resto, convém que haja um cuidado extra na tradução em manter os nomes de locais e pessoas exactamente como foram referenciados pela primeira vez de modo a haver uma sensação de continuidade, coisa que por diversas vezes não aconteceu ao longo dos sete livros (com especial ênfase no sexto livro, onde diversos nomes foram alterados de forma gritante, a ponto de não se reconhecerem os locais mencionados).


Quanto ao ambiente envolvente de Harry Potter, J. K. Rowling construiu um mundo de fantasia sólido, com alicerces suficientemente bem construídos para suportar os sete (mais dois) livros sem grandes falhas que pudessem ser apontadas. Na verdade, é possivelmente dos mundos mais bem construídos da literatura recente, havendo bastante cuidado a nível de pormenores. Teremos um épico ao nível de J. R. R. Tolkien? Certamente que não, mas a verdade é que dificilmente algum dia teremos.

Assim sendo, o salto para o grande ecrã era apenas uma questão de tempo, e o primeiro realizou-se logo em 2001 com a estreia da adaptação do primeiro livro, "Harry Potter e a Pedra Filosofal" pelas mãos de Chris Columbus. Como todas as adaptações, muitos pormenores ficaram por referir e alguma estória foi alterada, mas apesar de tudo foi um filme mediano (mesmo da perspectiva de adolescente, a minha na época em que o vi pela primeira vez). Chris Columbus trouxe também o segundo capítulo da saga apenas um ano depois, algo que se traduziu num registo um pouco apressado e que fez de "Harry Potter e a Câmara dos Segredos" um filme assustador com pouca estória. Contudo, ambos os filmes trouxeram a fase de maior inocência da saga, bem como a de introdução a todo um mundo de fantasia. Nos restantes filmes, o envelhecimento dos actores relativamente à idade dos personagens não foi positivo, notando-se por vezes uma grande disparidade.


Na terceira parte da saga Harry Potter nos cinemas, temos provavelmente uma das melhores realizações. Desta feita, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" trouxe-nos, pela primeira vez, o lado negro e perigoso do mundo criado por J. K. Rowling. Não é portanto de admirar que a escritora tenha ficado extremamente satisfeita com trabalho do realizador Alfonso Cuarón, e muitos leitores desiludidos. Foi este o filme de quebra com o lado infantil da saga, preparando os espectadores para o que ainda estava para vir.

Mike Newell teve o trabalho mais facilitado com "Harry Potter e o Cálice de Fogo", uma vez que o deslumbramento com a introdução de novas personagens e novos seres é um bom aliado das boas classificações. Contudo, o choque da parte final do filme também ajudou, mantendo a linha de trabalho iniciada no capítulo anterior. O facto de ser um dos livros preferidos do público em geral gerou também alguma expectativa extra com que Newell soube jogar, dando aos espectadores aquilo que mais desejavam ver.


Ainda assim, foi apenas em 2007 que a saga conheceu o seu realizador mais fixo. David Yates continuou o trabalho dos restantes ao trazer-nos "Harry Potter e a Ordem da Fénix" e até hoje, fase final do projecto, é ele que se mantém na realização dos filmes da saga. No seu primeiro trabalho, Yates soube manter-se fiel ao espírito dos livros, mas teve momentos pouco coerentes e confusos na realização, perdendo-se por vezes em pormenores insignificantes. Já em "Harry Potter e o Príncipe Misterioso", a realização tomou um rumo mais coerente. Pode-se dizer que, finalmente, J. K. Rowling encontrara o realizador de Harry Potter, um realizador que sabia misturar o mundo de fantasia de Harry Potter com o terror da possibilidade do regresso de Voldemort e balanceá-los de modo a criar um filme negro no mundo do fantástico.

Não se poderá dizer que estarei ansiosamente à espera que o próximo filme vá para os cinemas, contudo não afasto a curiosidade de quem cresceu a ler os livros. O trailer de "Harry Potter e os Talismãs da Morte" promete muito mais de David Yates, desta vez livre do mundo de Hogwarts e da obrigatoriedade de permanecer nos mesmos locais. Esperemos que o último capítulo da saga, dividido em duas partes, possa fechar bem estas adaptações ao cinema.


11 comentários:

  1. "é possivelmente dos mundos mais bem construídos da literatura recente, havendo bastante cuidado a nível de pormenores. Teremos um épico ao nível de J. R. R. Tolkien? Certamente que não, mas a verdade é que dificilmente algum dia teremos."

    Já leste as "Crónicas de Gelo e Fogo" de George R.R. Martin? Não estou a comparar até porque não o podia fazer. Mas são para mim do melhor que se faz neste género de fantasia na actualidade. Muito bem construidos e considerado por muitos o novo senhor dos anéis. Eu estou a adorar.

    Quanto aos filmes do Potter (os livros não li) vi os 5 primeiros. O 3 e o 4 são os melhores o 5 não gostei nada e por isso torci o nariz ao realizador, mas se dizes que melhorou fico mais contente.

    ResponderEliminar
  2. Por acaso ainda não li, mas realmente já ouvi falar. Mas lá está, não restringi aquele como sendo o melhor porque não li tudo o que se escreveu, logo não posso afirmar que não existe melhor. :)

    O quatro acho que peca um bocado por cair no facilitismo do deslumbramento, e o cinco realmente piorou muito. Com o seis houve finalmente algum senso a surgir, por isso acredito que vai conseguir desempenhar o seu papel como é esperado que o faça.

    Obrigada :)

    ResponderEliminar
  3. Grande escrita de Harry Potter.
    Também é uma saga da minha geração e pela qual nutro muito carinho, ainda bem que a minha namorada incentivou-me a ler pois adorei.
    Em relação ao sexto livro, o meu preferido, só o título já mete nervos em questão de tradução.

    Abraço
    Cinema as my World

    ResponderEliminar
  4. O título por acaso é logo uma nódoa, mas os erros continuam pelo livro fora.

    ResponderEliminar
  5. Que estranho até tenho a Presença em muito boa conta no que toca a edições. pelo menos na literatura russa traduzem directamente do russo e não de inglês ou francês como em outros casos. Penso que até já receberam algum prémio, ou por Dostoyevsky ou por Tolstoy (ou os dois) mas não garanto.

    ResponderEliminar
  6. Pois, eu também, tenho inúmeros livros deles e a maioria tem boas traduções. Mas a verdade é esta, eu na altura até fui verificar os nomes a outros livros e realmente tinham mudado. Não é que sejam más traduções feitas do inglês, só que não tiveram o cuidado de consultar as anteriores para manter os nomes.

    ResponderEliminar
  7. Detesto o quinto filme, é das nódoas cinematográficas mais ridículas de que tenho memória, mas, realmente, o realizador retoma uma sobriedade notória na sexta adaptação, algo que me agradou bastante e me fez voltar a acreditar em Harry Potter. Quanto a estes dois, espera-se, claramente, algo de muito comercial, mas não havia como não o ser. Fico muito desejoso para ver como se finaliza uma das minhas sagas preferidas, que me acompanhou desde a infância. Quanto aos livros, apesar de admirar o fascinante trabalho de Rowling na construção de personagens e de mundo, não deixo de sentir que a "negrura" que progrediu nos últimos 3 livros soe a bastante pretensão e alguma incoerência. É, de facto, um guilty pleasure.

    ResponderEliminar
  8. O quinto filme foi realmente mau, lembro-me que fui vê-lo ao cinema ao Arrábida e no fim quando toda a gente começou a bater palmas questionei-me por que raio o estariam a fazer... Mas o sexto deu-me esperança, pode ser que os dois que aí vêm consigam dar um bom final à saga.

    Quanto aos livros finais, não sei se é pretensão ou se se deu ao luxo porque sabia que tinha leitores mais velhos e que os iniciais já tinham mais 10 anos do que quando a saga começou. Certo é que aquilo não é definitivamente leitura para crianças.

    ResponderEliminar
  9. É verdade, alguém conhece "Books of Magic"? Muita gente acusa a Rowling de se ter baseado nestes livros ao escrever Harry Potter.

    Eu só li o 1º livro do Neil Gaiman e é verdade que é sobre um miúdo que tem muito potencial para ser um grande feiticeiro (dos maiores) e ele é igualzinho em termos fisicos ao Harry Potter. Mas a história em si não tem NADA a ver (pelo menos no 1º livro). Este livro é uma história completa mas depois outro escritor pegou no universo e criou uma série do "Books of Magic" e desses é que não posso falar, mas dúvido que sigam a linha do Potter.

    ResponderEliminar
  10. Por acaso não conheço, não sou muito de literatura do fantástico, o Harry Potter foi uma excepção levada lá para casa pelo meu pai (e ficou na estante até não ter mais nada para ler na altura, até porque nunca tinha sequer ouvido falar dos livros).

    ResponderEliminar
  11. Esqueci-me de dizer que é BD, o que não altera nada pois continua a ser do género fantástico, mas só para dar uma ideia melhor :)

    ResponderEliminar