terça-feira, 28 de setembro de 2010

Wall Street: O Dinheiro nunca Dorme, por Carlos Antunes


Título original: Wall Street: Money Never Sleeps
Realização: Oliver Stone
Argumento: Allan Loeb e Stephen Schiff
Elenco: Michael Douglas, Shia LaBeouf, Josh Brolin e Carey Mulligan

Wall Street: Money Never Sleeps é o filme que leva a perguntar onde está o Oliver Stone aguerrido e instintivo, mesmo inconveniente, que conhecíamos?
O realizador que corria o risco de errar - e foi errando - mas que dizia com os seus filmes aquilo que bem entendia com uma veemência visceral?
E nem precisa de ser o Oliver Stone da segunda metade dos anos 1980, mas mesmo o Oliver Stone que há dois anos fazia W. e dois anos antes disso WTC.


Olhemos primeiro para a importância do discurso económico do filme.
Sabe-se agora que Wall Street chegou como prenúncio da catástrofe que poucos conseguiam ou queriam prever.
Wall Street: Money Never Sleeps é apenas revisão da matéria, uma redacção sobre as causas e os efeitos de uma crise que vai a meio mas cujo início já nos foi explicado pelos media e mesmo pelo cinema (Capitalismo - Uma História de Amor).
Wall Street: Money Never Sleeps não só surge tarde como surge sem nada a acrescentar, nem na forma nem no conteúdo do discurso.
De novo com um pequeno conto moral a fazer as vezes de argumentação para aquilo que ele toma como leigos - que não nego que muitos sejam - e, pior, papalvos.


Em todo o caso, a irrelevância da moral poderia ficar um pouco esquecida se nascesse no espectador a mesma relação com os personagens que havia no original.
Uma relação com incerteza e sentimentos divididos, mas uma relação apesar de tudo.
Aqui o muito polido idealista Jake Moore (Shia LaBeouf) parece contraditório naquele ambiente. Com laivos de vingança, com fé cega, com determinação no futuro, que faz ele afinal ali? Não parece ter estofo, apenas parece disponível para ser manipulado.
A sua história sentimental com a filha de Gekko também não tem interesse particular, mas é a morte quase imediata do seu mentor Louis Zabel (mais um grande pequeno papel de Frank Langella) acaba com o mais interessante que ele tinha para dar - embora seja este acontecimento que deve ser o motor da trama que se segue.


Há algo pior a constatar, no entanto, de novo virando a atenção para Oliver Stone.
A sua garra não desapareceu apenas do seu trabalho como narrador, desapareceu também da personalidade que vincava na realização.
Oliver Stone desta vez parece submetido à convencionalidade dos estúdios, uma realização sem nada de distinto e repleta de “rodriguinhos” incompreensíveis
Se ficarem para ver as imagens que acompanham os créditos finais vão ver como em um minuto ele demonstra como o seu olhar se banalizou para um ponto do qual se receia que não consiga regressar.


No meio de tudo isto há o regresso de Gordon Gekko. É isto que vale aquela estrelinha ali no final da crítica.
Duas décadas depois ele voltou, com laivos de humanidade, mas implacável como sempre.
Os seus verdadeiros propósitos são evidentes, o guião não o resguarda nem um pouco, como é evidente o ponto final a que ele chegará.
Mas como Michael Douglas é um génio da sua arte, entre a pouca substância arranca algumas tiradas brilhantes com o jeito que só ele lhes sabe dar.
A forma contundente como ele resume as personagens de Wall Street ao seu carácter rastejante é memorável ao dizer sobre Zabel “No one else in this racket has had the balls to commit suicide. It's an honorable thing to do.”.


Wall Street: Money Never Sleeps é fastidioso, longo para além da conta e quase sempre sem ponta de interesse. As aparições de Gordon Gekko aliviam esse sentimento mas nunca por completo.
O original não precisava desta revisitação, mas talvez Oliver Stone precisasse. Afinal, “é a economia, estúpido”!



1 comentário: