sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Depois da Vida, por Tiago Ramos


Em face à dificuldade sentida pela indústria cinematográfica contemporânea em reinventar-se dentro de géneros já largamente consolidados e abordados, tem-se notado uma tendência – ou moda, talvez? – em partir-se para o universo dos géneros híbridos ou uma certa ambiguidade nos mesmos.



O mesmo se passa com o filme de estreia da realizadora e argumentista polaca Agnieszka Wojtowicz-Vosloo. Depois da Vida concentra-se nessa ambiguidade de géneros, uma mistura de filme de terror ou thriller/suspense, que nunca se chega a definir em algum momento do filme. Se em alguns filmes, essa mistura acaba por funcionar positivamente, em Depois da Vida deixa o espectador dividido e sem chegar a conclusão alguma, acaba por concluir (talvez acertadamente) que o filme perde as boas ideias numa fraca concretização.

Mas na verdade e no que diz respeito ao suspense, a realizadora está de parabéns, pois todo o clima criado que deixa o espectador na incógnita, garante alguns momentos bem interessantes, especialmente para quem gosta do género. E é precisamente essa dúvida que faz o filme fugir do mediano, mas que simultaneamente o reduz a um nicho de género, neste caso mal-aproveitado.

Argumentativamente, Depois da Vida torna-se interessante enquanto análise social e humana e a forma como realmente aproveitamos a vida. Para os mais filosóficos pode servir de reflexão ao modo como encaramos a nossa própria existência. É precisamente uma metáfora sobre o sentido da vida, acabando por homenagear as etapas do luto e da morte, desde a culpa, a dor, a preparação, a negação, a aceitação. No entanto, o filme nunca se chega a focar demasiado nestes factor. Se por falhar o objectivo ou por falta de sentido de oportunidade, nunca chegamos a perceber.



Tecnicamente o filme tem algumas opções estéticas interessantes, mesmo que clichés, tal como alguns close-up iniciais ou o cenário quase clínico logo na primeira cena. Neste campo, a realizadora revela algum potencial que abandona ao longo do filme e que faz o espectador duvidar das suas intenções.

O elenco está competente, sem nunca se destacar individualmente, mesmo com nomes como Liam Neeson (num papel ambíguo, mas sincero), bem como Christina Ricci com um papel interessante, mas que se dispersa juntamente com o argumento da história.

Depois da Vida resultava muito mais como curta-metragem do que como longa-metragem de cerca de 1h e 40 minutos. Aqui acaba por ser um material com potencial, mas altamente ambíguo e disperso, que se perde nessa mesma inconstância. A atmosfera é interessante e em alguns casos, bem melhor que determinados thrillers ou filmes de terror. Mas o cinema não deve viver só de aparências.



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