sábado, 29 de janeiro de 2011

A Estrangeira, por Tiago Ramos



Título original: Die Fremde (2010)
Realização: Feo Aladag
Argumento:
Feo Aladag
O cinema alemão tem jogado nos últimos anos com a situação social do seu país. A sua posição geograficamente central permite-lhe funcionar como um posto intermédio entra a Europa oriental e ocidental, compartilhando fronteiras com mais países europeus que qualquer outro e tendo uma percentagem significativa de população com ascendência estrangeira. A população turca é precisamente a maior na Alemanha, daí que muita da filmografia vinda do país é influenciada por essa temática de multiculturalismo.



A Estrangeira, que teve estreia em Portugal na KINO – Mostra do Cinema de Expressão Alemã, é fruto dessa diversidade. A actriz austríaca Feo Aladag tem aqui o seu primeiro trabalho com assinatura própria, no papel de produtora, argumentista e realizadora preocupando-se com a temática da família, cultura, religião e etnia, dividindo-se entre a Turquia mais oriental – abordando a moral e crenças de uma família turca conservadora – e a cidade de Berlim ocidentalizada. Na verdade, A Estrangeira não é um filme de premissa ou estética originais. Pelo contrário, a sua banalidade entre inúmeros argumentos do género que têm surgido nos últimos anos, pode ser um factor contra a sua apreciação.

Mas a sensibilidade com que a realizadora cria o ambiente deve motivar ao visionamento do filme. Entre choros, silêncio, desespero e força de vontade, a meio conflitos emocionais e físicos, a câmara de Feo Aladag está sempre focada na protagonista. É íntima a ligação que criamos com uma forte personagem principal, mas também com as secundárias, contrastando com o distanciamento que temos sobre Berlim e Istambul. A construção da narrativa, sem ser propriamente original, resulta no filme em questão, começando com o final em segmentos e voltando ao início de forma a explicar a motivação de tal conclusão. É sentimentalista, dramático e sobretudo triste. É o olhar sobre uma luta pela independência, sem nunca fazer uma crítica frontal a uma religião, mas sim a uma mulher que não tem oportunidade de ser feliz. É simplesmente o choque entre a cultura alemã e a turca, onde a mulher tem poucos direitos mesmo numa geração que nasceu no ocidente.



Mas quem carrega todo o filme é a actriz Sibel Kekilli, alemã de ascendência turca e que já trabalhou com o conhecido realizador Fatih Akin em Head-On (2004). Anterior actriz pornográfica, de uma beleza exótica e de grande sensibilidade, Sibel Kebilli desenvolve no seu rosto toda a carga dramática da história da sua personagem. A sua energia e motivação permite ao filme ganhar uma envergadura que não lhe seria permitida se esta fosse ausente.

Já a realizadora Feo Aladag, para principiante, tem um trabalho competente. Atenta aos detalhes, o filme prima pela sua estética cuidada nomeadamente pela fotografia de Judith Kaufmann e pela banda sonora de Stéphane Moucha e Max Richter. Contudo, por vezes sucumbe ao sentimentalismo, não propiciando por vezes o ritmo adequado à história. Indicado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro pela Alemanha, o filme não chegou aos nomeados finais, talvez precisamente por esses defeitos da história. Mas A Estrangeira é um belo e angustiante filme, retrato de uma Europa diversa e multicultural.



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