terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Katalin Varga, por Carlos Antunes


Título original: Katalin Varga
Realização: Peter Strickland
Argumento: Peter Strickland
Elenco: Andrea Gavriliu, Roberto Giacomello e Melinda Kántor

Katalin Varga é uma história de violência contada num silêncio quase castrador da personagem que lhe dá nome.
Um silêncio que amplia os sons violentos que o mundo esconde.
Cenas que seriam meramente um retrato do belo bucólico tornam-se revelações crúeis e visões indelicadas.
O som do filme conta-nos uma história horrífica, insinuante e claustrofóbica. Uma história que consegue penetrar em nós e deixar uma marca profunda.
Uma história que mais tarde nos é relatada mas aí já não para impôr o terror dos seus eventos mas para nos dar a ver as enviesadas (e crúeis) consequências para quem relata a história na primeira pessoa.
Alguém que se tornou capaz de já rir da sua dor e que aceita a fantasia protectora que criou como a verdade com que termina a sua história.


Infelizmente a história de vingança não é perfeita. Talvez porque a própria vingança não o é.
Uma vingança atrai outra e impede que haja um desfecho justo e revelador, senão mesmo definitivo, sobre a história que seguimos desde início.
Havia mais interesse em saber como seria a existência daquela bizarra forma de núcleo familiar depois da revelação ser total do que em ver uma verdadeira concretização da história de vingança que era mais um motivo de progressão do que uma finalidade.


Este primeiro filme não está livre de alguns pequenos defeitos mas é um auspicioso início para um criador dedicado.
Até porque com ele consegue deixar, talvez inocentemente, uma reflexão sobre o próprio cinema.
Afinal, a magistral (e premiada) utilização do som deixa à mostra que a visão é um sentido traidor da realidade, manipulável à custa das sensações que sobre ela se acumulam.




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