domingo, 27 de fevereiro de 2011

Somewhere - Algures, por Carlos Antunes


Título original: Somewhere
Realização: Sofia Coppola
Argumento:
Sofia Coppola
Elenco: Stephen Dorff, Elle Fanning e Chris Pontius

O mundo em que Johnny Marco se desloca é o mais frívolo possível, mesmo com todas as possibilidades à sua disposição.
Um mundo com um carro caro e veloz que ele faz correr para lado nenhum, em círculos, até ao cansaço.
Um mundo com strippers gémeas que aparecem regularmente com uma coreografia nova e que não lhe impedem o sono.
Uma futilidade que tem mesmo um custo físico, com uma mão partida, quando os muitos que circundam Marco nas festas são incapazes de tentar ajudá-lo ao cair das escadas.
O vazio em que ele vive está povoado de festejos e excessos.


Sofia Coppola filma a própria aridez desta vida, não só para testar a resistência do espectador, mas para o fazer sentir fortemente essa realidade.
Sofia Coppola evidencia por imagens aquilo que outros fariam entender por diálogos.
As imagens de Coppola traduzem as emoções realistas que o olhar dela capta.
Assim cria ela uma oposição entre a beleza dos seus planos e um certo desgaste emocional do circuito fechado que corre no vazio.


A transformação do filme acompanha a do seu protagonista que passa a ter a filha ao seu cuidado.
A partir daí a vida dele parece mais preenchida, ainda que aquilo que o vemos continuar a fazer não seja muito mais substancial do que anteriormente.
Aquilo que poderia, então, parecer igualmente desesperante ganha contornos de felicidade e apaziguamento.
Um jogo de Guitar Hero ou um longo período a apanhar sol são momentos que nos merecem um sorriso pela luminosidade da transformação pela família.


Esse é o tema, o preenchimento emocional de uma vida, a obtenção de um propósito.
Não se trata de uma crítica de Sofia Coppola a Hollywood mas simplesmente o desejo de deixar claro a importância e a força que a âncora emocional de um filho tem numa vida.
Não que um filho deva servir como método para superar a solidão e o desespero, mas que a resposta às necessidades de outra pessoa pode preencher o que nada mais consegue.
Para uma vida com significado deve buscar-se os outros. E a família é o núcleo imediato para o qual Sofia quis e nos faz olhar.



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