terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Tu Que Vives, por Carlos Antunes




Título original: Du Levande
Realização: Roy Andersson
Argumento: Roy Andersson
Elenco: Jessika Lundberg, Elisabeth Helander e Björn Englund

Não fosse por acreditar que a publicação de banda desenhada Portuguesa na Suécia fosse tão esparsa como a estreia de cinema Sueco em Portugal, diria que Roy Andersson leu A Pior Banda do Mundo.
Tal como na obra de José Carlos Fernandes, há um espaço que se caracteriza pelos eventos dos seus habitantes.
Eventos com a tristeza da estranheza e o humor do reconhecimento. Exageros da realidade possível, roçando o absurdo (de nós próprios).


Cada episódio é um quadro do qual não se desvia o olhar. Fascínio visual num delírio de ressonâncias com o ponto de vertigem para onde caminham todas as vidas modernas.
O desabrigo e a frieza de alguns cenários são os companheiros ideais para o olhar severo, nunca contrito, do realizador para com as suas personagens.
A nossa obrigação é olhar e aguentar as queixas que fazem directamente para o lado de cá do ecrã. Porque também destes personagens retiramos o humor cortante e cruel de quem não quer que se apaziguem.


Alguns dos episódios são como pequenos aquários observados por outras das personagens. Ligações ténues, inconcretizáveis porque a distância é a regra.
A tristeza está em tudo o que se vê, silenciado e cinzento, preenchido por personagens e vazio de existência.
O "Tu" do título é o espectador. Ou espera-se que seja o espectador, que ainda vai a tempo de ser comparar com os que (talvez) já não vivam ali no ecrã.
Ninguém se rirá em voz alta deste filme mas sofrerá pelo riso castigador do reconhecimento desta reconstrução da sociedade em estado de fuga.


Tu Que Vives é um filme único, verdadeiramente único. Por mais que se procurem combinações de semelhanças para o tornar um pouco mais óbvio, ele permanecerá uma bela incógnita.
Não sei se há um género aqui criado, mas há uma aprendizagem a fazer com um filme assim, sem convenções mas empático, identitário de quem o fez e indicativo para quem o vê.
E só vendo, realmente, se pode julgar o filme. Apreciá-lo ou rejeitá-lo, mas afirmar-se perante ele.




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