Realização: Susanne Bier
Argumento: Anders Thomas Jensen
Susanne Bier descobriu, há já algum tempo, a fórmula exacta para fazer filmes de Hollywood fora de Hollywood. Um aparente contraste mas que define muito bem o cinema da realizadora dinamarquesa: Brothers (2004) teve um recente remake pelas mãos de Jim Sheridan, After The Wedding (2006) esteve nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e o seu remake americano já se encontra em produção, Things We Lost in the Fire (2007) foi a sua primeira incursão na realização de produções norte-americanas, este In a Better World eliminou toda a concorrência vencendo o Globo de Ouro e Óscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro e irá realizar uma comédia romântica protagonizada por Pierce Brosnan, de nome All You Need Is Love. Só desta forma se explica a consagração do seu mais recente filme nos Globos de Ouro e nos Óscares: únicos galardões que recebeu nesta temporada. Fenómeno que se explica pela tendência da HFPA e da Academia em premiar o melodrama universal e que cumpra os requisitos da moral e bons costumes.
Num Mundo Melhor é precisamente isso: um produto bem embalado nessa tendência moralista e generalizada de trazer lições geopolíticas para o cinema, algo já habitual na dinamarquesa Susanne Bier. E de facto nas últimas obras é inevitável a presença do tema da guerra, como se a culpa de viver num país desenvolvido a assolasse e o cinema fosse uma última forma de redenção. O maior problema é que a realizadora entra mais uma vez no plano dos paralelismos fazendo crer que tudo o que se passa na Europa e países desenvolvidos é um sintoma do mal-estar da humanidade, especialmente no caso dos países de terceiro mundo. Uma tendência para a generalização que resulta numa sucessão de clichés onde não falta a Internet como fonte do mal e onde o bullying e a reacção a esse fenómeno como transposição para o chavão “violência gera violência”, quase como um projecto educativo para crianças. É esse exagerado assumido no cinema de Susanne Bier que resulta num vazio entre personagens e tragédias.
O argumento de Anders Thomas Jensen (Brothers), habitual companheiro da realizadora, teria muito mais a ganhar se demonstrasse enfoque na situação trágica das duas crianças, vítimas de tragédias familiares (cada um à sua maneira), que enfrentam bullying diariamente na escola e na forma como cada uma delas reage a essa violência. Aí sim, perceber-se-ia melhor o ressentimento e ódio, justificar-se-ia melhor a moral de vingança e redenção, temáticas tão tradicionais na arte de contar histórias. Mas perde-se essa sensação intimista de familiaridade quando Num Mundo Melhor faz dessas crianças e suas famílias, um microcosmos para uma realidade global, que de certa forma é ignorada quando se generaliza a totalidade do continente africano num único evento isolado.
Num Mundo Melhor apenas não se perde mais porque encontra-se assente numa boa direcção de actores, de onde se destacam os desempenhos do sueco Mikael Persbrandt (que veremos em The Hobbit), a dinamarquesa Trine Dyrholm (tivemos oportunidade de vê-la o ano passado no drama Águas Agitadas) e o jovem William Jøhnk Nielsen. Desempenhos intensos e duros que dão mais personalidade ao filme. Da mesma forma também a inspirada fotografia (saturada e colorida) da autoria de Morten Søborg (Valhalla Rising) é um dos pontos altos do filme.
Porém, estes aspectos técnicos não livram o filme de um certo marasmo de produção cuja única intenção é o melodrama fácil e uma lição de moral como conclusão. As conclusões filosóficas de Susanne Bier sobre a família, violência, intolerância e política resultam de uma agenda contra a situação mundial, através de comparações irreflectidas, clichés e pretensiosas. Não que Num Mundo Melhor seja um filme mau, mas é de questionar a sua glorificação em detrimento de obras mais originais e competentes na sua forma e conteúdo (o grego Dogtooth, por exemplo), originando a um dos menos consensuais e mais fracos vencedores do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro nos últimos anos.
Num Mundo Melhor é precisamente isso: um produto bem embalado nessa tendência moralista e generalizada de trazer lições geopolíticas para o cinema, algo já habitual na dinamarquesa Susanne Bier. E de facto nas últimas obras é inevitável a presença do tema da guerra, como se a culpa de viver num país desenvolvido a assolasse e o cinema fosse uma última forma de redenção. O maior problema é que a realizadora entra mais uma vez no plano dos paralelismos fazendo crer que tudo o que se passa na Europa e países desenvolvidos é um sintoma do mal-estar da humanidade, especialmente no caso dos países de terceiro mundo. Uma tendência para a generalização que resulta numa sucessão de clichés onde não falta a Internet como fonte do mal e onde o bullying e a reacção a esse fenómeno como transposição para o chavão “violência gera violência”, quase como um projecto educativo para crianças. É esse exagerado assumido no cinema de Susanne Bier que resulta num vazio entre personagens e tragédias.
O argumento de Anders Thomas Jensen (Brothers), habitual companheiro da realizadora, teria muito mais a ganhar se demonstrasse enfoque na situação trágica das duas crianças, vítimas de tragédias familiares (cada um à sua maneira), que enfrentam bullying diariamente na escola e na forma como cada uma delas reage a essa violência. Aí sim, perceber-se-ia melhor o ressentimento e ódio, justificar-se-ia melhor a moral de vingança e redenção, temáticas tão tradicionais na arte de contar histórias. Mas perde-se essa sensação intimista de familiaridade quando Num Mundo Melhor faz dessas crianças e suas famílias, um microcosmos para uma realidade global, que de certa forma é ignorada quando se generaliza a totalidade do continente africano num único evento isolado.
Num Mundo Melhor apenas não se perde mais porque encontra-se assente numa boa direcção de actores, de onde se destacam os desempenhos do sueco Mikael Persbrandt (que veremos em The Hobbit), a dinamarquesa Trine Dyrholm (tivemos oportunidade de vê-la o ano passado no drama Águas Agitadas) e o jovem William Jøhnk Nielsen. Desempenhos intensos e duros que dão mais personalidade ao filme. Da mesma forma também a inspirada fotografia (saturada e colorida) da autoria de Morten Søborg (Valhalla Rising) é um dos pontos altos do filme.
Porém, estes aspectos técnicos não livram o filme de um certo marasmo de produção cuja única intenção é o melodrama fácil e uma lição de moral como conclusão. As conclusões filosóficas de Susanne Bier sobre a família, violência, intolerância e política resultam de uma agenda contra a situação mundial, através de comparações irreflectidas, clichés e pretensiosas. Não que Num Mundo Melhor seja um filme mau, mas é de questionar a sua glorificação em detrimento de obras mais originais e competentes na sua forma e conteúdo (o grego Dogtooth, por exemplo), originando a um dos menos consensuais e mais fracos vencedores do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro nos últimos anos.
Pensava que estava só na ideia da sobrevalorização deste filme. Fico mais "aliviado" :)
ResponderEliminarNão és o único. :)
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