quinta-feira, 19 de maio de 2011

The Ballad of Genesis and Lady Jaye, por Carlos Antunes


Título original: The Ballad of Genesis and Lady Jaye
Realização: Marie Losier
Elenco: Lady Jaye Breyer P'Orridge e Genesis P-Orridge

Há uma ideia incontornável neste filme, a técnica de cut-up de William S. Burroughs.
Algo que ele ensinou a Genesis P-Orridge como remodelação da arte e, eventualmente, reinvenção da realidade.
Genesis foi levando esse conceito a tudo o que fez ao longo da sua vida mas foi no encontro com Lady Jaye que ele transformou o conceito na linha orientadora da sua existência.
Por amor, começaram a transforma-se na aglutinação de ambos, recriando-se como um novo ser similar. Tornarem-se um só por se tornarem idênticos no meio termo que conjugasse as características de ambos. Pandrogenia foi como chamaram ao seu acto de amor extremo que lhes serve também como projecto artístico no limite.
Esta é a história central do filme que se sente ter ficado encurtada pela morte de Lady Jaye a meio do projecto, acabando este por ser preenchido pela memória das experiências diversas de Genesis.
E embora essas experiências sejam complexas e interessantes, são fonte para um outro documentário. Acabam por esconder em demasia a história conjunta, levando a personalidade de Genesis a tomar conta do ecrã.
Difícil seria culpar Genesis por ter continuado a dar tudo de si ao filme que será a memória de quem mais amou. Mas é inevitável culpar Marie Losier por não ter direccionado a escolha do material para que este falasse mais da outra metade de um projecto que só faz sentido a dois.
Nada que impeça que se saia satisfeito do filme, talvez a braços com uma edição mental da sua informação, mas enriquecido.
Até porque o próprio filme vem imbuído do conceito inicial, mescla de documentário e performance artística, como em reverência ao seu assunto.
Não se trata do melhor filme do festival, mas certamente um dos mais desafiantes para o espectador.



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