segunda-feira, 9 de maio de 2011

Entrevista a Flávio Pires, realizador da curta-metragem "Artur"

Com estreia marcada para esta terça-feira, dia 10 de Maio, pelas 21h30, no auditório Ilídio Pinho da Universidade Católica Portuguesa do Porto, Artur é uma curta-metragem documental que não queremos que nenhum nosso leitor perca. Aproveitámos e entrevistámos Flávio Pires, jovem realizador que decidiu seguir uma perspectiva intimista sobre a vida e obra de um dos mais ignorados realizadores portugueses, Artur Ramadas. Para Flávio Pires, a vida do cineasta é «um filme por mérito próprio».

De onde partiu a ideia de fazer um documentário sobre Artur Ramadas?
A ideia surgiu há cerca de um ano, quando numa aula um Professor fez algumas alusões a profissionais da história do cinema que se tinham destacado não só pelos seus filmes como pelas suas personalidades marcantes e traços mais curiosos e fora do normal. Entre os vários nomes que mencionou estava lá um realizador português de quem eu nunca tinha ouvido falar, chamado Artur Ramadas. Depois da aula fui investigar e fiquei desde logo motivado a fazer um documentário sobre esta personagem.

Qual a primeira reacção do cineasta ao facto de quererem fazer um documentário sobre ele?
Quando consegui o seu contacto, telefonei-lhe e apresentei-me como um aluno de Cinema e Audiovisual e que queria fazer o meu projecto final sobre a sua vida e obra. Aí marcámos um encontro onde discutimos o filme. Desde logo me disse que não concederia nenhuma entrevista, que a sua obra falava por si. O mais difícil foi dizer-lhe que o filme seria feito no âmbito da Universidade Católica. Ele, como seguidor da Igreja de Satanás, não ficou muito agradado e confesso que houve um momento que deixei de acreditar que o filme seria feito. Felizmente este obstáculo foi ultrapassado.

Foi fácil encontrar material e imagens de arquivo sobre Artur Ramadas?
Não foi muito fácil. As suas obras raramente foram mostradas em Portugal e existem muitos filmes que estão perdidos. Foi essencialmente através dele e de alguns colaboradores que felizmente conseguimos arranjar um material precioso para mostrar no documentário.

Como foi conseguir que as pessoas mais próximas falassem dele? Sentiste dificuldade?
Em alguns casos foi simples, como o do director de fotografia, Samuel Sebastião. Uma pessoa simpática e acessível que nos recebeu em sua casa com muita simpatia. Disse-me que estava admirado de ter demorado tanto tempo a pegarem no nome de Artur Ramadas de uma forma séria. Outro caso mais difícil e que não conseguimos foi o da ex-mulher, Fábia Edite, que participou em vários filmes do nosso realizador e seria um ponto importante no nosso documentário. Mas apenas a temos em excertos de filmes e entrevistas antigas. Quando nos encontrámos com ela e mencionámos o nome de Artur Ramadas ela recusou-se a falar mais.

Depois de todo este trabalho de pesquisa, a tua opinião sobre a obra do cineasta modificou-se? Em que sentido?
É difícil responder. Antes de fazer este documentário nunca tinha visto nenhum filme dele porque a sua obra é simplesmente inacessível. Apenas vi quando o próprio Artur e o Samuel me disponibilizaram alguns filmes. Acredito genuinamente que Artur Ramadas é um enorme realizador e que apenas teve azar no seu tempo. As suas ideias fortes e controversas mereciam um melhor local e tempo para serem exploradas.



Em alguns breves instantes, o filme conta com o cineasta. Como foi estar na sua presença?
Eu já tinha estado quando falámos inicialmente. Ele aceitou ser filmado mas não proferiu nenhuma palavra, tal como havia dito. Mas estar com ele num contexto de filmagens foi diferente pois contou-me alguns episódios do passado que desconhecia por completo e tive pena de não poder gravar o que ele me estava a dizer. Espero que um diz reconsidere pois tem algumas histórias engraçadas com grandes nomes do cinema, não só do português..

Achas que “Artur” vai incentivar os portugueses a conhecer melhor a sua obra?
Gostava que sim. Pelo menos isso. Acho que com este filme se prova que é muito fácil cair no esquecimento e espero que o público sinta a vontade de lutar contra isso. E existem mais Ramadas por esse mundo fora no mundo das artes.

Quais os planos para a exibição e promoção deste trabalho?
Em primeiro lugar faremos uma exibição pública na Universidade Católica (Foz), como é usual nos trabalhos finais de mestrado. Depois (espero eu), entraremos no circuito dos festivais nacionais e internacionais. E depois logo se vê.

Tens preferência por alguma obra específica de Artur Ramadas?
Todos os seus filmes são um reflexo do homem por detrás deles. Acho difícil compreender qualquer uma das suas obras sem primeiro conhecer o realizador. É uma pergunta muito difícil de responder. Mas a sua vida é sem dúvida um filme por mérito próprio e dos mais fascinantes que já conheci.


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2 comentários:

  1. Estou muito curiosa para ver este documentário... O que se descobre em Portugal...!

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  2. Acredito que não vá ficar desiludida!

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