O meu conhecimento da saga Scream foi já tardio, muito por culpa de um certo pudor e falta de informação, que se negava a assistir àquilo que esperava ser uma mera saga de terror para adolescentes. A propósito da estreia nacional relativamente recente do quarto capítulo do franchise, resolvi finalmente assistir à trilogia inicial de Scream, já que este Scream 4 pretende ser o início de uma nova trilogia contemporânea.
Scream (1996), de Wes Craven
É claramente o melhor da trilogia, especialmente dado o efeito refrescante que tem sobre os espectadores e que deverá ter sido ainda superior nos anos 90. A verdade é que, consciente dos clichés que o género de terror enfrenta já há muitos anos, Wes Craven – ele próprio criador de alguns dos principais clichés com The Last House on the Left (1972) e A Nightmare on Elm Street (1984) – resolve assumi-los e criar uma obra inteligentíssima que testa os conhecimentos do espectador e das personagens dentro de clássicos do género, sendo uma obra de terror auto-fágica, que se alimenta disso mesmo, acabando por se auto-parodiar frequentemente bem como, na sua maioria, os slasher movies. De génio, a aplicação das regras habituais dos filmes de terror, utilizando algumas delas e outras subvertendo-as conscientemente. A cena inicial do filme com Drew Barrymore é das melhores de sempre no género. Destaque para o trio de actores que nos viriam a acompanhar nos anos seguintes: Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette.
Scream 2 (1997), de Wes Craven ½
As sequelas de Scream foram sempre tidas como inferiores ao original e por alguns, absolutamente dispensáveis. A verdade é que sofreram claramente com as expectativas do grande público, mas também com os clichés que não conseguiram vencer e um argumento muito inferior ao original e frequentemente disparatado em excesso. A verdade é que, na minha opinião, distanciada do hype da época, mesmo essas sequelas são agradavelmente boas e funcionam claramente como um guilty pleasure. Ainda para mais, Wes Craven – também ele um fã de terror – apercebe-se dessa inferioridade e brinca com o conceito das sequelas dentro do próprio filme, como um leitmotiv para o novo assassino da máscara no segundo filme. Com a utilização de um filme dentro do filme – réplica dos acontecimentos do original de 1996 – e a popularização do fenómeno, o argumento criou Stab, consciente da habitual transposição de eventos verídicos para o cinema e torna-se absolutamente delicioso assistir à encenação da célebre cena inicial de Scream. Continua-nos a parecer que Neve Campbell é uma actriz inferior, mas não deixamos de nos sentir compelidos em seguir a protagonista quase invencível. Courteney Cox continua a brilhar.
Scream 3 (2000), de Wes Craven
A segunda sequela de Scream e capítulo final da trilogia deitou por terra muito do esforço conseguido até à epoca e tornou-se vítima de críticas ferozes. A grande culpa foi a mudança de argumentista e Ehren Kruger não consegue acompanhar a história criada por Kevin Williamson. Scream 3 torna-se ainda mais previsível em relação aos seus antecessores e a narrativa escolhida para justificar a sua existência é disparatada – com um assassino que começa a matar o elenco do filme dentro do filme – Stab 3, já para não falar da rídicula conclusão da mesma. Porém, o filme continua a manter intacta alguma da magia da saga como guilty pleasure e revela-se mais uma vez criativo na utilização dos clichés do género, neste caso, com a fórmula da conclusão das trilogias – onde tudo pode acontecer.
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