segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem, por Carlos Antunes


Título original: Rise of the Planet of the Apes

Só há uma personagem - ou, pelo menos, uma personagem relevante e bem executada - e essa é Caesar, o chimpazé que vimos crescer ao longo do filme.
O personagem é eximiamente desenhado pela Weta Digital - aliás, todos os símios o são e é um deleite assistir a essa qualidade digital - e tem uma admirável interpretação humana de Andy Serkis que se aplica, até mesmo de um ponto de vista físico, sem comparação para um actor que acaba "apagado" do resultado final.
Sabemos, no entanto, que o contrário tem acontecido e a qualidade de Serkis tem feito com que ele seja cada vez mais reconhecido mesmo acumulando personagens em que a sua presença deveria ser invisível. Tal só contribui para elevar o seu feito de sustentar este filme nessas condições.
O que é curioso é que o nome escolhido para o personagem, apesar da produção estar a tentar recomeçar a saga, acaba por nos levar a pensar no chimpanzé que comandava as duas últimas sequelas do filme original. E, a partir dessa associação, é difícil não inferir que foram estes últimos filmes - mais apontados à acção e cada vez menos ligados ao filme original - que mais contribuíram para o que viria a ser este novo filme.
Rise of the Planet of the Apes acaba por deixar a sensação de que é apenas um filme de acção com símios em competição com o resto que anda a preencher o verão.
Não é apenas isso que o constitui, mas quando as luzes se acendem é a conclusão que tiramos de imediato, também porque o filme, a partir de um ponto, acelera para a grande batalha, não tendo medo de dar alguns saltos de lógica para isso (mais quinze minutos não teriam prejudicado o filme).
Há, obviamente, um comentário feito à manipulação genética e à ganância farmacêutica, mas falta-lhe a contra-parte essencial, a humanidade interpeladora que contribui com algo mais do que a crítica social.
Sem duas formas de vida verdadeiramente antagónicas - não falo do antagonismo necessário à formação da identidade de Caesar, mas dos traços maiores do confronto entre espécies - não há questões pertinentes a resolver sobre o funcionamento do nosso mundo.
Se falta humanidade ao filme é tanto porque as personagens surgem como estereótipos do bom e mau comportamento para com a Natureza como porque os actores escolhidos estão num nível baixo de capacidade para dar uma nuance ao papel.
O caso mais severo é o de James Franco, também porque tem mais tempo em cena, mas é fácil esquecermo-nos que Freida Pinto ou Tom Felton fizeram parte do filme.
A única personagem (humana, repito) que é algo mais do que um conceito auto-explicativo é a de John Litgow - um privilégio vê-lo duas vezes esta semana a elevar dois pequenos papéis a momentos apreciáveis de cinema - que é tanto uma vítima como um privilegiado.
Não há estranheza em que seja ele a ter a ligação mais palpável com Caesar e que, de certa forma, a sua compreensão de que há grandes custos na luta pela manutenção da humanidade possa ser lida como o momento de passagem em que Caesar irá também compreender que há custos de viver uma vida dividida entre o humano e o símio.
Os sacrifícios que se têm de fazer em nome da maior capacidade intelectual - aquilo que se diria que define o ser humano como dominador da Natureza - são essenciais ao dramatismo da existência de Caesar, mesmo se não são focados na sua plenitude.
O filme deixa-nos partir com a sensação de termos visto algo insuficiente, mas não fica perdida a ironia de ser o Homem a causar a sua própria queda através do mesmo efeito que levará a espécie símia a erguer-se do seu papel subjugado.
Quero com isto dizer que há, pelo menos, qualidades suficientes para se esperar que as sequelas possam investir mais no que este filme teve de melhor.


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