segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Os Olhos de Júlia, por Carlos Antunes


Título original: Los ojos de Julia
Realização: Guillem Morales
Argumento: Guillem Morales e Oriol Paulo
Elenco: Belén Rueda, Lluís Homar e Pablo Derqui

Se há algo que gostei em Los ojos de Julia foram as suas cenas compostas em locais que Hitchcock não enjeitaria para si.
A fotografia cuidada e a luz bem doseada fazem maravilhas por essas cenas, preenchendo-as com a antecipação que cria mais do que um mero momento de susto, cria uma atmosfera de retracção.
Tem um excelente tema o filme para que tal atmosfera se prolongue, um medo em que muitas pessoas pensam de tempos a tempos - e, certamente, os cinéfilos mais vezes do que a maioria.
O que não se confirma pois se o tema é bom, os efeitos introduzidos quando o filme nos coloca no ponto de vista de Júlia são sinais da pouca inspiração que o filme tem para lá da boa escolha de alguns cenários.
Para além da redução e obscurecimento da área de visão da câmara nesses momentos, também a repetição das explosões de flashes como arma para ludibriar o espectador - e tentar fazê-lo saltar na cadeira - se mostram recursos convencionais e desajeitados no seio do tipo de ambiente filmado.
O filme só sai prejudicado por não se decidir estilisticamente entre o thriller (quase um noir por vezes) e o filme de terror. Nem tentar equilibrar os género sem os truques de terror simplistas.
Será o mesmo que se passa com a sua história, indecisa entre compor a tensão à conta da personalidade e das relações das suas personagens e meramente explorar um mistério preparado na primeira cena do filme e que não dependia de nada mais do que a existência de uma mulher que subitamente se vê cega.
A resolução do thriller, que é aquilo que faz o acto final do filme, mostra que o filme esteve a colocar em jogo elementos - independentemente da desinteressante exploração visual de alguns deles - que não vai recuperar no momento essencial.
A aparição de um elemento descaracterizado que é figura principal desse momento - e que numa cena quase patética mostra ter um passado dramático que valia a pena ver em jogo - trai qualquer construção do filme que se torna insatisfatório.
Pouco importa, a partir daí, que tenhamos estado perante boas intepretações de Belén Rueda e Lluís Homar - dois actores que facilmente nos habituaríamos a ver de forma regular - ou mesmo a memorável sequência passada no clube público.
A pouca aplicação na construção da sequência de actos do filme acaba por nos fazer crer que isto não passou de um exercício de estilos que não se comungaram.


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