sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Viagem à Lua, por Carlos Antunes



Título original: Le voyage dans la lune
Realização: Georges Méliès
Argumento: Georges Méliès
Elenco: Georges Méliès, Bleuette Bernon e Henri Delannoy

A Festa do Cinema Francês abriu com uma recuperação dos primórdios do cinema e, consequentemente, abriu com uma recuperação do fascínio primordial do cinema!
A versão colorida de Le voyage dans la lune reforça o efeito extravagante de um filme tão imaginativo que não perdeu nem um pouco do fascínio que exerce sobre o espectador.
A versão colorida do filme revela imagens que, por mais míticas e comuns que se tenham tornado na cultura popular, ainda dão lugar a uma descoberta do arrojo colocado na sua execução.
Os efeitos usados então continuam a funcionar sem necessidade de olhar o filme com o distanciamento histórico porque são fonte da magia primária que o cinema sempre teve e sempre terá sobre o público.
Perante as imagens sentimo-nos recuperados na nossa inocência primeira perante a imagem em movimento, incapaz de explicar como acontece e capaz de acreditar que tal acontece.
Tão bem conhecida que é a versão a preto e branco do filme e a mera presença das cores vivas – numa excelente cópia cujo trabalho de restauração merece ser aclamado a par do próprio filme – acaba por contribuir com uma visão nova de um dos primeiros filmes essenciais do cinema.
As cores nesta reencontrada versão do filme dão um tom fascinante aos cenários que, à época (podemos dizer agora), apenas viria a encontrar par nas pranchas de Little Nemo in Slumberland.
Já a banda sonora escolhida para o filme, a cargo dos Air, em substituição da música contemporânea ao lançamento original do filme com que este se fazia acompanhar, quase consegue contrariar tudo o que as imagens conseguem despertar no público.
Ainda que compreenda a lógica de escolha do grupo, a sua música está desajustada ao longo de quase todo o filme, podendo ter sido inspirado por ele mas fazendo o máximo para ser “obra independente” e, com isso, tentando impor-se ao filme.
Tirando o momento da aterragem na Lua (em que a música se torna suave o suficiente para se unir ao filme) o resto dos 16 minutos do filme obrigam a que se bloqueie a música para que esta não se sobreponha e apague as cenas que decorrem no ecrã.
Apesar disso – ou, quem sabe, mesmo por isso – as imagens deslumbrantes vencem. Até porque visto num ecrã de cinema, o filme tem uma força que não tem em nenhuma outra experiência!
Mais de cem anos depois, há um filme tantas vezes visto que nos é completamente novo. A celebração do cinema poderá encontrar um ponto mais certeiro do que este?


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