segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Vencedores do passatempo Sem Destino


Queremos agradecer aos participantes que enviaram as suas críticas para o nossos passatempo. Se uma se destacou de imediato, a outra foi mais difícil de escolher, mostrando que há muito talento entre os nossos leitores.
Aqui ficam as duas críticas ao filme Sem Destino que vão ser recompensadas com o livro respectivo.


Rui  Carneiro
Lembro-me bem do impacto sentido quando me confrontei com a grandíloqua adaptação à sétima arte do livro magistral de Imre Kertesz que relata de forma quase autobiográfica a crueza genocida e a barbárie infame de um dos capítulos mais infames da história humana, despertando consciências para a descida do Homem aos mais profundos antros da ignomínia.
No entanto, ao contrário de outros filmes acerca do holocausto, esta é uma história que revela como o belo e sublime conseguem coexistir mesmo no seio do mais profundo horror, como uma singela flor que encontra o seu rumo inverosímil através de um manto calcinado de cinzas.
“Sem destino”, como o título indica, leva-nos através do olhar escalpelizante da câmara através dos cenários de horror dos campos de concentração nazis de Auschwitz, Buchenwald e Zeitz.
O foco é a personagem central, Gyuri Koves, o alter-ego adolescente de Imre Kertesz e a sua jornada quase nefelibata e surreal, oscilando entre o real e o onírico, no ambiente hostil dos campos de concentração nazis. A obra de Lajos Koltai ganha em originalidade e cativa o público pelo teor confessional e intimista da diegese, mesmo não apresentando a dimensão visual e documental comum a outros filmes do género, “Sem Destino” prevalece na sua dimensão psicológica e emotiva, ao focar o tema da perda da inocência, pelo olhar juvenil e expressivo de Gyuri, numa representação magistral de Marcell Nagy, que agarra o papel desde o início do filme, cativando e emocionando o público com a sua notável capacidade para partilhar emoções com os outros.
Esta é também uma grande história de companheirismo, resistência e solidariedade humana, uma vez que simbolicamente a experiência de Gyuri pode ser transfigurada num rito de passagem à idade adulta, facto muito evidente ao longo do filme, até porque é possível ver a transformação psicológica e fisionómica da personagem principal ao longo daquele ano de vida retratado.
Singular é também a forma como o realizador aborda a circunstância do tempo ao longo do filme, concentrando-se em momentos específicos e produzindo instantâneos expressivos, desprezando uma abordagem mais convencional e linear da história.
Por último, há que realçar os aspectos mais técnicos e a oscilação premeditada entre as cenas no exterior e no interior dos campos, em que é notória a preocupação em marcar uma distância entre um e outro espaço, como se entre eles existisse um limbo inverosímil, facto que se deve à mestria cinematográfica de Gyula Pados e, posteriormente, à cuidada e criteriosa edição de Hajnal Sellõ.
A banda sonora da responsabilidade do excelso Ennio Morricone é irrepreensível e enquadra de forma magistral a força das imagens e das palavras.
“Sem destino” é assim uma obra de arte dramaticamente expressionista e existencial, convocando de forma sublime temáticas que se centram especificamente na condição humana.
Lajos Koltai não nos apresenta a sua versão da história, nem sequer nos propõe uma qualquer outra versão, o filme é a visão infantil dos factos, mas é o olhar do público que em última instância escrutina e problematiza ou se sensibiliza com a epopeia de Gyuri.


Bernardete Amaral
Mais do que um simples filme acerca duma história de vida, Fateless é uma homenagem a todos aqueles que independentemente das atrocidades a que foram sujeitos, nunca deixaram de acreditar nas suas origens. Lajos Koltai esteve fantástico na realização deste filme, porque nele nos faz experimentar sentimentos tão distintos, que vão desde os mais profundos sentimentos de tristeza e revolta, à felicidade de uma comovente história de vida. Um filme a ver e rever.

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