O quinto dia no Fantasporto foi marcado pela sessão de abertura que definiu o arranque oficial da competição. Foi atribuído um prémio carreira ao cineasta russo Karen Shakhnazarov (que será alvo de uma retrospectiva no festival) e à parte dos habituais discursos introdutórios de Beatriz Pacheco Pereira, uma das directoras do festival e, este ano, do secretário de estado da Cultura, Francisco José Viegas, que prometeu estar prestes a entrar em curso uma espécie de "Plano Nacional de Cinema" que tenciona levar cinema às escolas de primeiro ciclo e secundário.
Em termos cinematográficos, a noite ficou marcada pela exibição de Shame e da minissérie (dividida em duas partes) Bag of Bones, que contou com a presença de Mick Garris.
O filme confirma grande parte da expectativa sobre ele, mas acima de tudo é a confirmação do britânico Steve McQueen como um grande realizador, depois do fantástico Hunger (2008). Aqui volta a trabalhar com Michael Fassbender, fazendo parecer que este é o cineasta que melhor sabe dirigir o actor e que nos traz mais um grande papel da sua recente carreira. Este é um retrato cru e sufocante de um homem e da sua compulsão extrema por sexo, longe dos clichés habituais que a sociedade moderna dita como pervertido. É um trabalho fluido, rico em nuances e interpretações e que garante fortes "murros no estômago". O desempenho de Michael Fassbender, fazendo este um trabalho notável a todos os níveis, assim como a fantástica Carey Mulligan, fora do género dos seus últimos trabalhos e que impressiona pela veracidade do seu desempenho. A câmara de Steve McQueen é impecável e repleta de cinema e conjuntamente com a fotografia de Sean Bobbitt e composição de Harry Escott, conseguem fazer de Shame uma obra psicologicamente claustrofóbica.
Filmado e escrito directamente para televisão, Bag of Bones tem todos os maneirismos do formato, assim como alguns dos defeitos. Porém, esta exibição em grande ecrã resultou bastante bem. Especialmente porque tecnicamente é um trabalho competente, mas também porque a adaptação de um romance de Stephen King é algo já habitual neste festival e o público já sabe o que esperar. A narrativa é cliché, especialmente o seu desfecho (não isento de alguns disparates), mas na verdade esta estrutura revisita um tipo de cinema/televisão de suspense e terror dos anos 80 (o cliché de agora foi inventado aí) e do qual Mick Garris é um honrado veterano. Os sustos embora previsíveis, são eficazes e apesar de no final a história ser óbvia, a verdade é que consegue manter o mistério durante grande parte da narrativa. Grande surpresa para um bom trabalho de interpretação de Pierce Brosnan, provavelmente um dos melhores do actor.
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