quarta-feira, 4 de abril de 2012

Fúria de Titãs, por Carlos Antunes



Atribuir a continuação de Clash of the Titans ao realizador de Battle Los Angeles é a combinação de dois filmes insuficientemente maus para inverterem a lógica do bom gosto.
Péssimas perspectivas de um filme que, afinal, prova que há um ponto a partir do qual "o único caminho é a subir".
Bastou mudar o tom e apostar mais na aventura do que na acção para chegar a um filme inesperadamente agradável de acompanhar.
Muitos dos erros do primeiro foram expurgados, começando pelo essencial: desta vez há uma história. Simples e com várias incorrecções mitológicas, mas uma história com princípio, meio e fim.
Uma história, ainda para mais, que tem tanto a noção do divertimento que uma aventura deve proporcionar como ainda mostra interesse pelos seus melhores actores.
Daí que os momentos dedicados ao culminar da relação entre Zeus e Hades sejam os melhores do filme, beneficiando sobretudo Liam Neeson que apaga da memória a prestação a que o submeteram no primeiro filme.
Acresce a essa lista de momentos a presença de Bill Nighy, uma gema à medida que ele leva ao limite do humor os maneirismos que já tem por hábito usar nas suas personagens.
Há mais a destacar além do conjunto de grandes actores que aparecem por aqui. O controlo das cenas no labirinto motiva o espectador a manter-se atento e a concepção de Kronos é a mais excitante do filme, sobretudo para que o 3D seja levado a bom uso.
Só na altura dos combates - que será a mais julgada pelo público - é que o julgamento ao filme se torna mais severo.
Quando a batalha está ao nível do solo, Jonathan Liebesman não abdica de filmar no estilo de cameraman seguindo uma guerrilha urbana.
Quando as criaturas mitológicas têm tamanho para aparecer bem vívidas no ecrã, a montagem não dá tempo para apreciar devidamente o trabalho feito, o que, considerando que estes dois filmes são fruto de uma exploração do legado de Ray Harryhausen, seria de esperar que estivesse no topo da lista da importância.
Ainda assim, nada tão mau que faça desanimar como acontecia com o primeiro filme, com o equilíbrio deste filme a fazer por merecer alguma benevolência extra com os seus deméritos.
Claro que, no final de contas, o preferível era mesmo que tivessem feito o filme sobre os desaguisados familiares dos deuses, com trovões à mistura e um inclemente foco nas interpretações dos actores britânicos escolhidos a dedo. Como nem todos os desejos nos podem ser concedidos, aceita-se o que aqui se tem.


Sem comentários:

Enviar um comentário