quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ParaNorman, por Tiago Ramos


Título original: ParaNorman (2012)
Realização: Chris Butler e Sam Fell
Argumento: Chris Butler
Elenco de vozes: Kodi Smit-McPhee, Anna Kendrick, Christopher Mintz-Plasse, Leslie Mann, Tucker Albrizzi e Casey Affleck

Em 2009, num ano em que o mundo da animação foi ofuscado pela estreia de Up, da Pixar, outro filme de animação, não menos genial (talvez até mais), estreava: Coraline, dos estúdios Laika (os mesmos que já tinham trazido Corpse Bride). Há pois portanto aqui uma tendência do estúdio, que regressa agora três anos depois, em trazer para o lado mais infantil o género de cinema de terror. Uma tendência que era habitual nos anos 80, onde talvez fosse mais comum as crianças e jovens terem um certo fascínio pelo cinema do género e que Chris Butler e Sam Fell trazem de volta à vida com este ParaNorman. Não haja pudor para afirmar que este é o melhor filme de animação do ano, pegando em vários temas delicados e trazendo humanidade a uma história rodeada de conceitos paranormais e de terror.

A partir de uma inteligente cena de abertura, onde se evocam os clássicos de terror dos anos 70 e 80, nomeadamente os filmes de zombies, partimos para uma interessante e delicada homenagem ao género (que provavelmente não deixará os mais velhos indiferentes), com referências directas a Night of the Living Dead (1968) e Halloween (1978), em meio a terror e bastante humor. Com cenas de terror muito bem construídas e surpreendentes (ajudadas pela atmosfera brilhante criada pela direcção artística e pelo tenso trabalho de som), a narrativa incentiva o espectador (adulto ou criança) a aceitar a diferença como algo natural, não se coibindo de inserir elementos mórbidos com receio de afastar as audiências, permitindo de uma forma simples e sem moralismos, explicar como, em sociedade, somos influenciados a cometer actos horrendos por medo, discutindo a importância da individualidade (onde - algo inédito num filme de animação - até referências sexuais são feitas de um modo absolutamente natural). A construção das personagens é tão genuína, que facilmente permite ao espectador identificar-se com as mesmas, dada a naturalidade das suas acções e personalidade.

O trabalho técnico é soberbo (mesmo que a versão 3D não impressione particularmente), do melhor que se faz em clay e stop motion, sem esquecer um único e verdadeiro sentido cinematográfico (evidente pelo trabalho fotográfico e sonoro), com um constante sentimento melancólico, colocando a Laika como um dos mais interessantes e subvalorizados estúdios de animação do mundo. A história de ParaNorman é tão dura, como comovente. Um trabalho único cheio de referências para adultos (especialmente os cinéfilos), num misto entre Tim Burton, Neil Gaiman e George Romero, mas sempre com uma grande mensagem para toda a família e que não deve, sobretudo, ser menosprezada, sob o pretexto do estereótipo negativo do género de animação (para alguns considerado menor). ParaNorman prova mais uma vez que as maiores críticas e lições podem vir dos lugares mais improváveis.



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