Produções de dois países escandinavos, de um país da Europa Central, de um da América do Sul e outro da América do Norte, perfazem o rol de cinco nomeados ao Óscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro. De todos os países, a Áustria já foi previamente nomeada três vezes e venceu uma; a Noruega foi nomeada por quatro vezes (sem qualquer vitória); o Canadá foi nomeado à categoria já por sete vezes (com uma vitória); a Dinamarca já foi nomeada oito vezes (vencendo por três ocasiões) e o Chile nunca tinha recebido qualquer nomeação na categoria até agora. Dentre os nomeados deste ano, qual o vosso preferido à vitória?
Amour, de Michael Haneke
O que dizer de um filme que manipula o espectador do início ao fim? Michael Haneke fá-lo de uma forma clínica e cínica, mas também terna, com um retrato da intimidade de um casal, à medida que definham e sucumbem à crueldade da natureza da vida. Uma obra-prima, devastadora e austera, sobre o amor abnegado, com duas das melhores interpretações dos últimos anos. Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva trabalham de uma forma harmoniosamente naturalista, mesmo quando estão perante acções rotineiras, bastando-lhes para isso simples expressões faciais e corporais. São eles que conectam o processo de Haneke em nos manipular perante o simultâneo sofrimento e amor. [Crítica completa]
Kon-Tiki, de Joachim Rønning e Espen Sandberg ½
O que mais surpreende aqui são os elevados valores de produção para uma longa-metragem europeia. A dupla de noruegueses trabalha um filme de aventuras como em Hollywood, com o devido cuidado técnico, mas também com uma história coerente e cativante, mesmo que por vezes simplista. Histórias de explorações marítimas não são raras no cinema (a expedição do Kon-Tiki já foi também alvo de um documentário premiado nos Óscares) e esta não é excepção em seguir os habituais padrões do género. Não é também menos por isso que devamos ignorar o objecto de entretenimento que é este filme, incluindo momentos de tensão adequados e uma banda sonora que injecta a dose certa de sentido de aventura. É a antiga história de homem versus elementos da Natureza, num formato competente.
No, de Pablo Larraín
Depois de duas críticas subtis ao regime de Pinochet (Tony Manero e Post Mortem), Pablo Larraín regressa ao mesmo tema, mas de uma forma bem mais evidente e através de um dos melhores filmes do ano. A câmara assume um tom documental (uma excelente fotografia saturada e em formato 4:3) ao seguir os eventos que conduziram ao referendo de 1988 no Chile, que decidiria se Augusto Pinochet continuaria no poder até 1997. O cineasta foca-se na campanha pelo "Não" e no formato revolucionário que esta assumiu, ignorando os habituais trâmites de campanha política (especialmente as dos regimes dictatoriais) e adoptando uma estrutura mais próxima do anúncio publicitário, num tom positivo e optimista em relação ao futuro no país. Um testemunho forte da ditadura e repressão política, ao mesmo tempo que segue de forma emocionante a história de René Saavedra (num excelente desempenho de Gael García Bernal), criador da campanha pelo "Não".
Drama de forte carácter político sobre a história das crianças violentamente afastadas da sua família para serem treinadas como soldados, na África subsariana. O olhar é feito sobre uma menina que é raptada aos 12 anos para servir num exército rebelde. Emotivo, mas chocante, o filme é liderado pela forte interpretação da jovem Rachel Mwanza (no seu primeiro trabalho) que conduz o espectador para a essência cruel da história. É a destruição completa da inocência de uma criança que tenta sobreviver perante um mundo brutal, sem qualquer moral ou ética. Destaque para o trabalho de fotografia e de mistura de som que só ajuda a inserir o espectador neste ambiente e história provocadores e cruéis.
Produção de época, tecnicamente magistral (magnífico design de produção e que envergonha muitas grandes produções de Hollywood), numa narrativa cativante e apaixonante. O trio de protagonistas (Alicia Vikander, Mads Mikkelsen e Mikkel Boe Følsgaard) são o tour de force desta história de manipulação, amor e revolução, que acabou por marcar a Dinamarca como uma sociedade pioneira e avançada a nível científico e cultural.
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