sexta-feira, 20 de março de 2015

Corre, Rapaz, Corre; por Carlos Antunes



Título original: Lauf Junge lauf
Realização: 
Argumento: Heinrich Hadding
Elenco: 


Revela-se difícil não pensar em Forrest Gump quando até o título para ele remete pela sua semelhança com uma das citações mais habituais dessa obra de Robert Zemeckis.
Não é custoso ver neste filme o mesmo estilo de personagem que vai ao encontro casual da História quando nela procura manter a sua discrição.
Um personagem que nesse caminho episodicamente se cruza com eventos que adicionam importância à vida que não a teria de outra forma.
Só que neste caso se tratam de episódios de violência - ou consequentes dela - e não felizes acasos como na fantasia Hollywoodesca.
Um rapazinho judeu em fuga solitária aos invasores nazis através da Polónia ocupada corre sempre de um sofrimento para outro pior.
O filme acrescenta uma dimensão lúdica a este relato, em que a história se pontua com momentos idílicos - dentro daquele contexto - e até um ou outro próximos da comédia.
O amainamento que isso traz à carga emocional pesada, até por se tratar da história de uma criança, faz pensar ainda em La vita è bella, embora ainda longe da sugestão de maravilhas de Roberto Benigni.
A dureza de Lauf Junge lauf é maior e não está escudada pelo seu realizador. As imagens ferozes estão no ecrã sem que o realizador chegue a um aproveitamento ao género da exploitation.
Tal é louvável, sobretudo sabendo que a história parte de um caso verídico, pois não mascara nem extrema as muitas adversidades cruéis - humanos ou naturais - a que aquela criança se sujeitou apenas para continuar viva.
Esse contexto faz dele um filme sem heróis, em até aqueles que assistem o rapaz acabam por optar pela sua própria sobrevivência e não por um altruísmo sacrificial.
Nem o protagonista o é, com a saga da sua sobrevivência a evidenciar que ele dependeu do acaso e de algumas artimanhas de moral discutível, vendo-se ainda contrariado pela sua própria inépcia - natural numa criança!
A assumpção de que não houve heróis ao longo desta história é um pressuposto que não chega para formar personagens.
O carácter episódico da relação de Srulik com quem se cruza implica que estes se tornem tipificações de comportamentos vários que dão uma imagem abrangente e exemplificativa do período em causa.
Isto dá ao filme uma função de consciencialização - ou rememoriação - para uma história mais entre as relativas à perseguição do povo Judeu durante a II Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo assemelha-o a uma história aventurosa com ideias genéricas e difusas de "bons" e "maus". Um efeito que contraria a dose de realismo transmitida pela qualidade da produção.
Daí que com o decorrer do filme se desenlace a relação do público com o filme, apesar da sua continuada carga de tristeza reconfortante (porque o rapaz sobreviveu e o mundo já não vai a tais extremos).




3 comentários:

  1. Muitas séries quis renovar e usar uma versão diferente
    como a série Togetherness
    que decidiu começar com uma nova e divertida história e tem agora uma segunda
    temporada

    ResponderEliminar
  2. Vou olhar para esse filme para vê-lo, ele pegou meus depsués atenção ler sua opinião, soa muito comovente. Um filme semelhante é Black or White, o filme é americano e a verdade é muito boa história, você certamente vai adorar.

    ResponderEliminar