quarta-feira, 1 de julho de 2015

Ted 2, por Carlos Antunes



Título original: Ted 2
Reaização: 
Argumento: Alec SulkinWellesley Wild
Elenco: 


Ted foi uma surpresa como o buddy film que não obedecia  a regras e que tinha um carismático protagonista cuja origem digital era esquecida em segundos.
Depois veio o falhanço (absoluto) de A Million Ways to Die in the West e uma demonstração de que o género de humor de Seth MacFarlane não se adapta à exigência de longa-metragem estruturada.
Ted 2 vem confirmar que perante a necessidade de um foco o estilo de Seth MacFarlane estraga o efeito global e apaga até o carisma do personagem que era o essencial do primeiro filme.
Com menos meia hora, que levasse consigo todo aquele humor que faz nascer pequenas linhas narrativas cuja única consequência é uma punch line, poderia este filme ser uma fábula curiosa sobre a identidade humana através de um personagem
Entre um melodrama de um casamento a correr mal ou a historieta infantil do roubo de Ted para o tornar num boneco à escala global, o filme vai-se desconjuntando, afastando-se cada vez mais daquele combate simples em que um peluche que ganhou vida deve provar a sua relevância ao mundo.
Ted vai perdendo o carisma porque não evolui e deixa de ser um personagem para ser o boneco de ventríloquo do seu criador e dependente das circunstâncias para fazer valer a sua suposta personalidade cómica.
Que tenha a seu lado um Mark Wahlberg que já se nota ser velho demais para o personagem que interpreta, fazendo do filme uma paródia de si próprio, e uma Amanda Seyfried que parece pouco talhada para a comédia (de certeza que é a mesma actriz que vimos em While We're Young?), mesmo se prejudicada por um papel escrito como a mais inverosímil e irritante alienação da cultura popular já vista, só ajuda a que Ted se torne num incómodo que não fora à primeira.
São três moldes de personagens que servem de escape a uma única voz de comédia. Um filme monótono até nesse aspecto.
Levados pelo humor derivativo de Seth MacFarlane percebemos, em definitivo, ele só funciona mesmo em formatos curtos.
Por lá, mesmo das vezes em que falha, as consequências são quase nulas. Numa sala de cinema onde se exige um pouco mais o falhanço só se acumula.
Mesmo sem uma narrativa que justifique o tempo gasto, Seth MacFarlane faz pior e prova que não tem sentido de ritmo que impulsione o filme. Nem sentido de timing!
De tal forma que o realizador faz uma piada com Liam Neeson, ainda no início do filme, que fica em aberto. Quando a tirada final finalmente surge, é necessário ter visto a totalidade dos créditos finais.
Por altura deles começarem já ninguém se lembrava da piada e a prova é que quando a sua (parca, senão mesmo nula) recompensa chegou mais ninguém estava na sala a meu lado.
Mas se o humor de MacFarlane não parece ter funcionado para a ideia de filme, pelo contrário a ideia de ser um filme parece ter passado para MacFarlane que faz por enviar o público de volta a casa com um sorriso mais "limpo".
O final do filme diz que MacFarlane teve de render o seu arrojo à convenção. Depois de termos visto Wahlberg coberto de sémen, somos escudados de lhe ver ser atirado uma fralda com cocó.
A meio do filme o realizador pode ser nojento porque ainda muito virá que o fará esquecer, no final não o pode fazer. Ou não o deixam. Seja como for, é o seu falhanço como comediante.
Uma pena que se conclua por essa rendição que torna o resto mais inóquo do que ele quer fazer crer que é quando o único bom momento do filme é uma cena - totalmente inútil à história, obviamente - que faz pensar na discussão dos limites do humor em The Aristocrats.
Ted e John vão a um clube de comédia de improviso e quando lhes pedem sugestões de pessoas, eventos e locais eles respondem (entre outras) com Hitler, 11 de Setembro e o cockpit da Germanwings.
O primeiro filme de Ted terá sido o grande acaso sustentado por uma disposição para descobrir o urso de peluche que ganhava vida. Quando foi preciso construir sobre isso, Seth MacFarlane mostrou que o seu humor tem mais valor de choque do que espicaçante eficácia.




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