sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A Rapariga Dinamarquesa, por Carlos Antunes



Título original: The Danish Girl
Realização:  
Argumento: 
Elenco: 


Perante um filme que se define na interpretação do seu principal actor é interessante notar que o mesmo alcança, numa das suas cenas, a definição exacta do trabalho de Eddie Redmayne.
A cena mostra um momento em que Einar Wegener se dirige a um peep show para aí visualizar e mimetizar os gestos que a rapariga executa.
Einar procura definir Lili através de gestos que são eles próprios exageros de feminilidade moldados à imaginação (ou falta dela...) dos homens que ali se apresentam.
Assim vai Eddie Redmayne, mostrando-se um homem à procura de fazer de mulher por um certo exagero sem nunca encontrar um ponto em que se sinta confortável.
A desadequação pode ser natural ao início da transformação mas depois prolonga-se perante o público como se de um ensaio se tratasse em que vemos os passos titubeantes da busca por uma interpretação credível: de tal maneira que dela não desapareceram os tiques que tornam Redmayne reconhecível e que este deveria apagar no seu persongam..
Reconheça-se que a cena tem a sua beleza - ainda que seja um pouco obtusa quanto à lógica do que nela acontece perante o contexto envolvente - ao conseguir que se transforme em algo mais do que um jogo de espelho quando a rapariga começa a desafiar Einar no seu próprio jogo secreto.
A mesma cena resume a essência da relação de Redmayne com a intérprete que o acompanha, Alicia Vikander.
A sua Gerda Wegener é, para os efeitos desta comparação, anónima num filme que terá sempre mais olhos para o seu marido.
Só que a sua interpretação sóbria é aquela que sustenta a do seu colega, influenciando nela algum corpo dramático.
Em Vikander reflecte-se algo que evita que a prestação de Redmayne seja completamente espúria.
Deseja-se que a actriz não acabe secundarizada (quanto a prémios) como Felicity Jones em The Theory of Everything onde a interpretação de Redmayne era, de facto, substancial, mas já se ancorava na mulher a seu lado.
A par dela há que destacar a banda sonora. Alexandre Desplat é sinónimo de qualidade - nem sempre de diferenciação - mas desta vez adiciona uma camada de complexidade à sua orquestração que se transmite à leitura que se faz dos personagens.
Um benefício claro para um argumento pobre que se vale vezes demais de cenas que são um resumo simbólico do processo de aprofundamento psicológico que deveríamos ver no filme.
O sofrimento físico, em particular, é esboçado com leviandade. Uma cena em que Einar é agredido por homofóbicos para demonstrar a sua luta com a sociedade parece apenas servir para marcar o ponto. Os gritos no pós-operatório são abafados por morfina e por um corte rápido a uma cena que provavelmente tinha alguma importância adicional para falar da coragem de ser o primeiro a fazer a operação de mudança de sexo.
Esta pobreza é suficiente para Tom Hooper, cada vez mais interessado em projectos prestigiantes e cada vez menos atento ao que deve extrair dos seus actores.
Convencido pelos prémios que lhe deram o realizador procura mostrar agora uma alguma inventividade que passa por estabelecer muitas das cenas em planos com um eixo de simetria que faça deles um verdadeiro quadro (em referência a um dos aspectos definidores da história).
Os resultados visuais são mornos de emoção. Já os efeitos dramáticos são os de reduzir a chama de vida dos personagens.
Mesmo assim não se apagam por completo. Como já ficou evidente - e felizmente para ele - há Alicia Vikander!




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