"When Love Takes Over, You Know You Can't Deny"
Neste momento, já todos devem estar familiarizados com o fenómeno da cultura LGBT internacional
RuPaul's Drag Race - um reality show em que um grupo de concorrentes, drag queens, atua numa série de
desafios pelo direito ao título de America's Next Drag Superstar (relativamente aproximado do ainda
mais popular America's Next Top Model).
Tipicamente, não me debruço sobre programas televisivos não roteirizados. Tecnicamente, RuPaul's Drag
Race é um reality show, de natureza muito pouco scriptada (suspendamos a descrença, por uns momentos,
e acreditemos).
Assim, importa ressalvar: RuPaul's Drag Race é um fenómeno de popularidade, e isso sim justifica uma
crónica de opinião.
Desde a sua estreia, em 2007, transmitida pela LogoTV (canal exclusivo dos EUA) que RuPaul's Drag
Race apelou a um segmento específico de público.
No entanto, a sua nona temporada foi transmitida pelo canal VH1, contou com o episódio mais visto de
sempre (Oh My Gaga - episódio 1) e mais uma vez sofreu uma metamorfose artística e de storytelling.
Os seus episódios consistiam numa fórmula mais ou menos constante: mini-challenge, main challenge,
runway, lipsync for your life. Alguns desafios, como o Snatch Game, ou o Reading is Fundamental,
são recorrentes em todas as temporadas e esperados ansiosamente pelos fãs do formato.
Mais do que um showcase de Drag Queens, o programa dá uma plataforma para a discussão de assuntos
de interesse da comunidade LGBT, com uma leveza séria que só pessoas do meio artístico com maior
expressão no mundo homossexual conseguem imprimir.
Desde as pageant queens, às shady queens, às comic queens, até àquelas que ainda estão a descobrir
a sua identidade (looking at you, Aja), o programa conta com um elemento chave que une todas estas
personagens: a luta. Pela identidade, seja de género, de expressão, artística ou simplesmente
o direito à existência.
Contudo, o que de mais impressionante existiu na temporada 9 foram as concorrentes:
Charlie Hides, a mais velha participante de sempre, com 52 anos; Trinity Taylor, a maior surpresa da
herstory; Shea Coulée, dançarina exímia e sempre preparada; Aja e Valentina, duas front-runners
simultaneamente amadas e odiadas pelo público, que protagonizaram os dois momentos mais memoráveis
dos episódios regulares ("You're perfect, you're beautiful" | Untucked ep 2) e o momento
mais tenso de sempre no lipsync for your life ("maskgate" | Episódio 7).
O episódio final, com a coroação, criou a sua própria controvérsia: através de um modelo de morte
súbita por lipsync, RuPaul criou intriga, expectativa, interesse e surpresa.
Sasha Velour, uma das concorrentes com o histórico mais consistente, acabaria por gravar para
sempre o seu nome nas páginas da história com as suas performances impressionantes de duas músicas
do ícone Whitney Houston.
Assim, concorde-se ou não, Sasha Velour mereceu indubitavelmente a vitória na corrida, e torna-se
legitimamente America's Next Drag Superstar.
Com uma fórmula renovada, com algumas falhas mas acima de tudo com passagens inesquecíveis,
RuPaul's Drag Race é uma aposta ganha, tanto do criador, RuPaul Charles, como da VH1, como de todos
que um dia duvidaram que a cultura LGBT pudesse ter tanta expressão, importância e relevância na
sociedade como hoje a vemos.
RuPaul's Drag Race (2017)
VH1
Temporada 9
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