sexta-feira, 23 de junho de 2017

Transformers: O Último Cavaleiro, por Eduardo Antunes


Título original: Transformers: The Last Knight (2017)
RealizaçãoMichael Bay

Se recentemente Pain & Gain mostrou alguma coisa é de que Michael Bay não tem receio em abordar outros géneros e histórias fora da sua zona aparente de conforto, com sucesso patente. Mas o dinheiro certamente falará mais alto para Michael Bay, e assim aqui regressa ele, sem grande investimento extra posto na sua própria realização, para mais um filme de Transformers cheio de acção mas sem emoção que a alimente.

Na verdade, o grande problema desta sequela, e no seguimento directo da anterior, é que perde qualquer sentido de estrutura narrativa e visual que antes estes filmes conseguiam de alguma forma ainda ter. Torna-se um filme sem qualquer hierarquia narrativa, não só no que toca aos protagonistas, humanos ou cybertronianos, como ao que se está a passar no ecrã, sendo que passamos rapidamente de uma conversa entre Cade e Izabella para uma perseguição de carros, logo seguida de um debate entre técnicos da NASA passando para uma conversa entre soldados, sem transições, pausas ou entendimento de quem devemos realmente seguir.
Isto também se nota bem no facto de antes de nos reapresentarem Yeager do filme anterior, é inserida Izabella como uma personagem central, mas a qual a um terço do filme já foi infelizmente posta de lado, apenas para regressar na última batalha sem nexo ou objectivo.

Há ainda assim alguns aspectos positivos potenciados (mas nunca clarificados) neste "esforço cinematográfico". Pela primeira vez, ao fim de cinco filmes desta saga, Michael Bay livrou-se (quase) inteiramente da comédia palerma e/ou ofensiva omnipresente nos restantes filmes. Ainda que não esteja desprovida da ocasional personagem estereotipada, a verdade é que o próprio filme parece ironicamente abordar essas piadas anteriores.
Inclusive, se até agora a protagonista feminina sempre fora meramente um objecto sexual (provavelmente fruto dos variados anúncios da Victoria's Secret que Bay filmou), excepcionalmente não é esse o caso (apesar do ocasional evidenciado decote).

Para além disso, finalmente temos uma personagem do lado dos Transformers com uma personalidade própria. Não cai na categoria de recentes abordagens numa semelhante saga, apesar da própria comparação no filme, mas Cogman (Jim Carter) é certamente uma estreia bem-vinda, de entre tantas personagens mecânicas que pela nossa frente aqui passa(ra)m. Ao contrário de Optimus Prime ou Bumblebee, a sua caracterização não passa meramente pela nomeação das suas cores ou algumas frases-chave.




Para além disso, a ausência de Optimus Prime nos primeiros dois terços do filmes permitiu a Bay focar-se nas personagens humanas. Longe de serem tridimensionais, é agradável ver a (curta) dinâmica entre Wahlberg e Moner, e mesmo Hopkins consegue levantar uns sorrisos honestos com o seu Sir Edmund Burton, mais absurdamente tresloucado do que estamos à espera de início. Onde Sam Witwicky era um palerma a gaguejar de um lado para o outro e Cade Yeaguer era antes um inventor falhado, o nosso protagonista masculino é assumidamente tratado como um herói de acção desta vez, o que é preferível a uma falsa e preguiçosa dramatização.

Vejo-me obrigado a deixar uma especial nota à belíssima música composta por Steve Jablonsky, que inicialmente tão semelhante ao seu mentor Hans Zimmer (sem isso significar menos qualidade), conseguiu a cada um destes cinco filmes ganhar um novo fôlego e dar um carácter sempre diferenciado, tornando-se cada vez envolventes e oferecendo uma camada de dramatismo e beleza que os filmes à partida não têm nem merecem. Deixo uma amostra da sua mestria mais abaixo.

De qualquer das formas, ainda que seja um prazer ver Bay aprender a utilizar cada vez mais e melhor a escala e os efeitos visuais dos confrontos robóticos nas suas cenas de acção, conflitos a uma escala planetária já se tornam uma fatiga e as cenas de acção finais já caiem nos trinta minutos que o filme tem claramente a mais. E onde no terceiro filme, a invasão por parte dos Decepticons sentia-se uma progressão natural dos planos antagónicos e mostravam o conflito também do lado humano, aqui não existe sequer esse investimento e já só queremos chegar ao obrigatório discurso final narrado por Peter Cullen. 

Também não ajuda a total destruturação que a narrativa do filme apresenta, em 150 minutos que não apresentam mais que acontecimentos aleatórios que levam uns aos outros, sem nexo ou lógica. Demonstra que a falta de emoção aqui evidenciada parece ser do próprio Bay, que meramente parece pretender incluir no argumento uma data de ideias de outros filmes que ficaram assentes na sua cabeça, sem se preocupar com o fio condutor que liga essas ideias.

Passada uma década do início desta série de filmes e mais de doze horas dos mesmos, quase nada mudou para melhor. E já começando a cansar um pouco o constante aumento de escala dos conflitos destes filmes sem investimento extraordinário, se de alguma coisa é sinal o sucesso permanente desta saga é de que as pessoas são capaz de desligar o cérebro durante duas horas e meia e apreciar o espectáculo que Michael Bay lá conseguiu masterizar neste ponto da sua carreira, sem ficarem à espera de um bom filme.





Sem comentários:

Enviar um comentário