sexta-feira, 27 de julho de 2018

Beuys, por Carlos Antunes



Título original: Beuys
Realização: Andres Veiel
Argumento: Andres Veiel
Elenco: Joseph Beuys, Caroline Tisdall, Rhea Thönges-Stringaris


Beuys é menos um documentário do que uma performance adicional do homem que quis democratizar a definição do que é e de onde se faz arte.
Uma performance construída por mãos alheias com o material filmado de uma vida e a adição de alguns extractos de entrevistas dos que colaboraram de perto com Joseph Beuys.
Sem ser uma glorificação, é um filme discursivo, que propaga o sentido das ideias que o artista alemão expressou ao longo da vida, não só para a arte como para a política.
A componente biográfica que o filme tem surge para que se leiam alguns episódios da vida de Beuys como potenciadores da sua performance pública.
Nenhum deles é confrontado. Nem por verificação factual da mitificação que Beuys deles faz, nem por uma discussão das repercussões morais que eles devam ter tido.
Episódios de carga política não vão além de utensílios para que a dimensão da filosofia artística de Beuys seja elevada.
O acidente de avião que sofreu é dado como matéria de mito e inspiração em algumas das suas instalações. As suas acções como integrante da Luftwaffe ficam sem serem comparadas ao que o seu discurso posterior.
A sua participação na criação de um partido político de mensagem ecológica é mostrado como a sua tentativa de intervir socialmente, em expansão da sua mensagem artística. Fica por discutir a falta de um sentido crítico interno sobre a origem ideológica dos membros ali aceites.
Longe de se reivindicar uma necessidade de julgamento do homem, queria-se do filme o aprofundar do entendimento de Beuys.
Fica longe de retratar Beuys para quem não seja já um conhecedor do seu trabalho e da sua vida, evitando pisar as muitas contradições.
Os atentos a Beuys tentarão extrair alguns detalhes adicionais das imagens que nunca viram, sem terem um desafio à construção que já dele fizeram.
Para os não iniciados, algumas ideias sobressairão como pistas a seguir, além das imagens das performances de Beuys que ficarão como o que de mais atraente o filme tem, embora não se demore nelas o suficiente.
Sem uma interrogação por parte de Andres Veiel, Beuys não pode ir além de um apontamento demasiado satisfeito consigo próprio.
Não acrescentando matéria ao que de revolucionário Joseph Beuys trouxe ao mundo da arte, o filme tem de ser apreciado pela suas qualidades técnicas.
A fluidez da montagem é excelente, empurrando para diante o visionamento mesmo quando o filme frusta os desejos do público para um desafio.
Fica valorizada a pesquisa de materias de Andres Veiel e a construção narrativa a partir deles, alcançando um último discurso articulado que produz a tal performance referida a abrir o texto.
A atitude do filme inspira-se muito na atitude de Beuys, indo adiante e crendo na popularidade (a roçar o populismo) como rebate às críticas que possam surgir.
Não se pode ficar é pela aceitação deste discurso, tendo de se avaliar como a sua obra e a sua vida bate com o discurso.
No fundo, o filme é mais fiel a Beuys e ao que ele inspira noutros artistas do que à vontade que o público possa ter.




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