Stephenie Meyer está para os vampiros como Nicholas Sparks está para os grandes romances: atropelam-se e nenhum chega lá.
Dito isto, passemos então à crítica em si. Comecei por ler os livros desta saga e só de ver o trailer, percebi o que me esperava no filme: uma tentativa de colocar em cena os diálogos e monólogos mais "marcantes" do livro e atropelar o resto da estória.
O livro, apesar de ter uma escrita claramente para adolescentes e uma persistência irritante em reafirmar como Edward Cullen incapacitava Bella Swan, conseguia desenvolver as personagens e dar-lhes um passado mais ou menos desvendado que permitia compreendê-las. Havia alguma profundidade nelas que se traduzia nas suas acções.
Para quem não conhece a estória a partir do livro, Twilight será certamente um filme confuso. Tudo o que dava sentido às acções e reacções é colocado de lado em prol do romance e das cenas bonitas do filme. Conhecendo os restantes livros da saga, pergunto-me como se irão desenvecilhar nos próximos filmes quando necessitarem de explicações que deviam ter sido dadas anteriormente.
A escolha dos actores também me deixou um pouco em dúvida. Certamente ninguém esperaria que a intérprete de Bella tivesse de ter grande expressão facial, já que uma das suas características era exactamente a falta de reacção à maioria das situações. Mas quando se chega ao ponto de
Kristen Stewart ser tão má actriz que me fez soltar uma gargalhada no que devia ser um dos momentos mais tensos do filme, então se calhar já haverá algum problema. O mesmo se passa com
Robert Pattinson, intérprete de Edward, pois durante algum tempo estive indecisa entre a possibilidade de ele estar a ter um aneurisma ou estar a tentar representar a angústia que era tão bem retratada no livro. Em termos de características físicas tive pena que a intérprete de Alice,
Ashley Greene, não fosse a minorca saltitante tão marcante na estória original.
Em termos mais técnicos, o filme de Twilight teve algumas falhas. A realização estava bastante razoável, se bem que os flashbacks fossem tão clichê que chegava a doer. Um bom momento de realização e fotografia foi o jogo de basebol da família Cullen e a posterior chegada dos vampiros nómadas Laurent, James e Victoria. Contudo, a escolha da música foi um erro fatal, já que em alguns momentos não se coadunava com a cena a que foi associada. Como exemplo é fácil pensar na colectânea de imagens de Bella e Edward acompanhada de uma música digna de uma perseguição.
Twilight, o livro, conseguiu cumprir aquilo a que se comprometeu, embora a liberdade criativa que Stephenie Meyer usou na mitologia de vampiros tenha sido um pouco excessiva, levando à ideia de que não conseguiria contar a estória se não modificasse todos os mitos a seu belo prazer. É um livro tipicamente para adolescentes que consegue seguir um fio condutor e basear-se em personagens sólidas.
Twilight, o filme, não passou de uma tentativa de ganhar mais uns trocos abusando da sorte e contando com que as adolescentes estivessem tão concentradas nos personagens masculinos e no romance que não necessitariam de nada mais que visualizar os momentos bonitos deste capítulo da saga. Aos restantes espectadores, restou tentar apreciar a realização e compreender com grande esforço a motivação das personagens.