sábado, 18 de setembro de 2010

Até ao Inferno, por Tiago Ramos



Título original: Drag Me to Hell (2009)
Realização: Sam Raimi
Argumento:
Sam Raimi e Ivan Raimi
Apesar do tremendo atraso em comparação com outros países, finalmente o mais recente filme de Sam Raimi, actualmente conhecido comercialmente pela saga Spider-Man, e a sua nova incursão ao género de terror estreou em Portugal. E a bom tempo aconteceu, apesar da divisão entre crítica e público. Tal dificuldade de aceitação de Drag Me To Hell (traduzido para português como Até ao Inferno) prende-se com o género híbrido no qual se insere e que popularizou Sam Raimi, sendo a trilogia The Evil Dead um dos mais "belos" exemplares nesse sentido.



O realizador segue esse caminho e regressa ao terreno onde de facto se sente melhor. Até ao Inferno tem influências do género comedy horror popularizado nos anos 80, ou seja, mistura elementos ficcionais de comédia e de terror no mesmo filme, o que por si só dá origem a alguns momentos inusitados, que podem causar estranheza no mais incauto espectador. Mas Sam Raimi é um dos melhores nesse campo e efectivamente consegue criar mais um excelente exemplar do género. O filme destaca-se de imediato nos créditos iniciais – breves minutos – que revelam a qualidade técnica e o primor dispensados. E a partir daí entramos numa escala contínua de acção e terror, com direito a alguns clichés do género, que só termina mesmo nos créditos finais. De estrutura quase cartoonesca, Até ao Inferno é uma lufada de ar fresco nos filmes de terror contemporâneos, tratando-se ao mesmo tempo de uma sátira à economia norte-americana e ao estado de ganância e egoísmo a que assistimos actualmente. Mas nunca o faz de uma forma moralista, ou excessivamente séria, pois o elemento que mais joga a favor da longa-metragem é o seu humor politicamente incorrecto e macabro.



Repetidas vezes, Sam Raimi evoca o estilo de Evil Dead – embora não conseguindo equiparar-se a esse fenómeno de culto – no que nos referimos à estética de série B, com baixo orçamento, mas grande criatividade. Aspectos técnicos mais tradicionais propositadamente para criar tal efeito são utilizados simultaneamente com técnicas mais avançadas, como o CGI, o que torna este Até ao Inferno um dos mais originais nesse sentido. Facilmente o filme chegará a ser premiado em algumas componentes mais técnicos, como a edição de som, a caracterização e maquilhagem e a fotografia.

De facto, a fotografia de Peter Deming (Married Life) complementada com os ângulos de câmara e uma montagem inteligente de Bob Murawski (The Hurt Locker) são os melhores a garantir grande parte da tensão do filme. Não esquecer a banda sonora de Christopher Young (The Grudge), perito em garantir o tom melancólico e assustador dos filmes de terror, evocando ainda um estilo clássico. Mesmo que o argumento de Sam Raimi e Ivan Raimi seja de facto previsível – inclusive o final - facilmente o filme agarra o espectador durante todo o tempo.

Os desempenhos são maioritariamente convincentes: Alison Loham (Big Fish) destaca-se, mesmo dentro do estereótipo feminino dos filmes de terror, mas é sobretudo Lorna Raver (Armored) a corresponder ao típico pesadelo que esperávamos do filme. As cenas em que surge – quer sejam mais assustadoras ou cómicas – são igualmente estarrecedoras, principalmente devido à fantástica caracterização da personagem.



Até ao Inferno é um regresso ao cinema de terror dos anos 80, género no qual Sam Raimi é um dos poucos que é realmente competente. Obviamente que tem de ser visto à luz do género comedy horror que é, mas se visto como tal não produz arrependimento.

Classificação:

5 comentários:

  1. O Sam Raimi é perito no género, e este DRAG ME TO HELL é um regresso muito bem-vindo!

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  2. Eu, pelo contrário, não gostei nada do filme. Li as críticas, criei grandes espectativas... E assisti a uma desilusão total. De terror tinha muito pouco e estava bastante mais carregado de comédia que de outra coisa qualquer. Não foi bem construído o ambiente ideal para provocar desconforto no espectador, típico dos bons filmes de terror, na minha opinião. Considero-me fão do cinema do género, mas achei este "Drag Me to Hell" muito fraquinho, bastante aquém de um "Evil Dead", por exemplo. O Sam Raimi agarrou-se a blockbusters do tipo Spider-Man e devia manter-se por aí.
    Sinceramente não consigo compreender as boas críticas que tem recebido, pois falha no essencial de um filme de terror.

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  3. Por acaso não concordo mesmo. Óbvio que fica aquém de "Evil Dead", mas se o fores ver agora... não acredito que o aches realmente com muito terror. O que se destaca é a comédia, comedy horror, tal como por exemplo o "Re-Animator". Quanto aos blockbusters de Sam Raimi, não sou fã.

    Mas óbvio que são opiniões.

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  4. Sim, foi vendido de forma errada para cativar uma outra audiência.

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  5. Eu sempre vi este filme sendo publicitado (quer pela própria produtora como por citações retiradas da crítica) como "o melhor filme de terror dos últimos anos", tendo sido esse o principal mote no crescer da minha expectativa. "Comedy horror", completamente de acordo. Agora "o melhor filme de terror dos últimos anos"...
    Seja como for, não gostei, não me trouxe à memória os tempos de um Sam Raimi em forma e apenas partilhei aqui o meu ponto de vista de "espectador ignorante" (gosto muito de cinema, mas não percebo grande coisa disso)
    São questões de opiniões e gostos, sem dúvida ;)

    Apenas uma questão: revi o "Evil Dead" (o primeiro) há pouco tempo e, apesar de não me marcar como me marcou na primeira vez, ainda o considero mais assustador e com ambiente mais tenebroso do que 90% do dito "cinema de terror" actual. É um clássico e, na minha humilde opinião, não envelheceu nada!

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