domingo, 3 de outubro de 2010

Crazy Heart, por Carlos Antunes


Título original: Crazy Heart
Realização: Scott Cooper
Argumento: Scott Cooper
Elenco: Jeff Bridges, Maggie Gyllenhaal, Colin Farrell e Robert Duvall
Distribuidora: Castello Lopes Multimedia

Já o tinha dito a propósito de Um Sonho Possível e há que voltar a dizê-lo a propósito de Crazy Heart, há filmes que se fazem graças a um actor e que, fora ele, são pequenos demais para o grande ecrã.
Jeff Bridges leva o argumento de telefilme melodramático para uma dimensão onde recordamos a personagem como não recordaremos as situações em que ela se desenvolve.


O Bad Blake de Jeff Bridges não é uma personagem extraordinária, capaz de parecer extravasar o ecrã, mas é um mito americano fragilizado e humano.
Um génio country a correr o circuito de “tascas” e a acabar com a própria vida na lentidão decadente de bebida, tabaco e sexo gratuito.
As (pequenas) multidões ainda fazem dele mais do que ele próprio sabe que é.


A história dele que vemos é a de uma pequena redenção à conta de uma mulher e do seu filho. Uma família para quem deu cabo de quatro casamentos.
Mas a melhor música parece nunca nascer da felicidade, por isso Blake fará da sua última derrota a sua primeira grande vitória em muito tempo.
Uma clínica de reabilitação e uma música genial depois, ele aceita o seu destino de músico mais lembrado do que idolatrado – que está entre os grandes que ficam para o futuro e não entre os grandes que vendem só no presente – e de homem regenerado mas não recompensado.
Pagou pela sua salvação o preço possível e o génio ficou onde não poderia ficar o amor.


O filme é composto segundo o menor denominador comum, as paisagens, os concertos, tudo filmado com funcionalidade indiferenciada.
Mas pouco se liga a isso quando Jeff Bridges vai fazendo da sua personagem a luz que atrai o olhar.
A sua naturalidade deixa nas sombras (e à espera de ser percebida) a intensidade de uma personagem que nos parece real e que nos faz pensar no número de pessoas que, de facto, viveram destas histórias pela estrada fora descendo a pique.
Talvez nem seja o melhor papel de Jeff Bridges, nem sequer o melhor papel pelo qual foi nomeado ao Óscar, mas é a prova de que os prémios se dão a quem, sozinho, faz de algumas cenas um filme.




Extras

Cenas Eliminadas – Algumas cenas claramente bem cortadas, ainda que a última apresentada fosse bem interessante, mas demasiado evidente para um personagem mais sugerido do que evidenciado.

Com Jeff Bridges a interpretar as suas músicas teria sido interessante, pelo menos, um breve extra sobre essa genuinidade.



2 comentários:

  1. Concordo com o todo o texto... Jeff Bridges já merecia um Óscar; apenas foi injusto o facto de lhe terem dado num ano em que não merecia tanto: apesar de Bridges sustentar todo o filme, a interpretação do ano é, sem duvida, de Colin Firth em "A single man"... Talvez neste próximo ano se faça (novamente) justiça de forma menos justa...

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  2. Sim, foi um ajuste de contas com um prémio que estava em falta. Mas é claro que a melhor interpretação era de Colin Firth.

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