domingo, 18 de março de 2012

The Woman, por Carlos Antunes


Título original: The Woman
Realização: Lucky McKee
Realização: Lucky McKee e Jack Ketchum
Elenco: Pollyanna McIntoshAngela Bettis, Sean BridgersLauren Ashley Carter

A luxúria de um homem condu-lo a levar para casa uma mulher em "estado selvagem" no desejo de a domesticar e, como viremos a descobrir, submetê-la a ele como os restantes seres que o rodeiam.
Os cães e a família. Este é mais do que um homem dominador, é um violento modelador do predomínio de uma mentalidade machista.
A sua família está notoriamente isolada da sociedade que a poderia ajudar a fugir ao medo imposto.
A casa está isolada, a mulher não trabalha, a filha vive num medo silenciado e o filho é o único ser aceite - desde que cumpra com os desígnios do pai e se modele através dele.
O domínio masculino é de tal ordem que, contra toda a lógica e apesar de todo o entendimento do que aquela mulher faz ali, todos o acabam por ajudar nas tarefas que ele determina para cuidar da mulher que trouxe dos bosques.
Lucky McKee não prima pela subtileza. Ele deixa tudo à mostra nas suas cenas, todos os momentos que causam ânsia ao espectador pela sua surpresa.
Mas é, muitas vezes, esse olhar directo para o inesperado em vez da sua mera sugestão que o torna tão mais eficaz.
Uma opinião (da mulher) interrompida por um estalo (do marido) e depois ele sorri e dirige-se para a cama. Enquanto durou o sorriso que ele prepara para o mundo de nada desconfiar não suspeitamos que é aquele o grau de sujeição daquela mulher. Depois disso nunca saberemos até onde mais pdoerá ir porque o sorriso está sempre à tona e não revela nada.
Somos como o círculo de pessoas que se cruza com aquela família, incapazes de confirmar a verdade debaixo das aparências, ainda que saibamos que algo está mal.
A forma alheada de marcar presença de Angela Bettis é um acto extraordinário de uma actriz que não vemos vezes suficientes. E o ar naturalmente agradável de Sean Bridgers ajuda a que nos surpreendamos com a brutalidade que é capaz de representar - veja-se como os olhos sugam as personagens à sua frente e como as inflexões de voz são como ataques demasiado rápidos para alguma vez terem defesa.
Com eles como casal-modelo do estado errado da realidade doméstica, Pollyanna McIntosh desaparece. Nem tanto por estar fechada e longe da vista a maior parte do tempo, mas porque a sua violência está à vista e em modo de espera. Mas a verdadeira violência imposta pelo homem à mulher e pela mulher a si mesma. Pollyanna McIntosh está ali apenas para fazer o corte final na história.
E o final do filme é um problema de coerência com o restante. O salto para a violência toma de assalto a lógica das personagens.
A figura dominadora que se mostrava violenta de forma calculista torna-se, de súbito, um assassino movido pelas emoções incontroladas.
É o mote para a liberação e revolta feminista, com um grau de violência que não poupa, sequer, uma das vítimas do machismo dominante.
Era o que o público estava à espera desde o início, o grafismo brutal com uma surpresa exagerada pelo meio, mas é o que derruba o melhor da composição dramática prévia.
Aquele lançar no mundo das bases de um novo núcleo familiar, matriarcal e com o único homem submisso, tem um poder reduzido pela forma como foi alcançado. E nem a metáfora da ligação pelo sangue melhora o momento.

1 comentário:

  1. Ainda bem que o Syfy incluio este filme. Não tive oportunidade de ver no MOTELx e fiquei com pena. E com razão. O filme é muito bom. Com personagens bem construidas e completamente malucas.

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