domingo, 18 de março de 2012

Hobo with a Shotgun, por Carlos Antunes


Título original: Hobo with a Shotgun
Realização: Jason Eisener
Argumento: John Davies, Jason Eisener, Rob Cotterill e John Davies
Elenco: Rutger Hauer, Pasha Ebrahimi e Robb Wells

Hobo with a Shotgun tem uma vantagem em relação a Machete, ser genuinamente mau como os filmes que emula e não uma fabricação com pretensões a validação autoral de uma cinefilia feita à margem das escolhas habituais (além do lucro massivo ou não viesse aí a primeira sequela do filme de Robert Rodriguez).
A honestidade de Hobo with a Shotgun merece elogio pois torna-o no primeiro exemplo de toda a vaga saída ou derivada de Grindhouse - e que parece ainda longe de acabar - que é um dos filmes de exploitation que veio apresentar à audiência presente em vez de uma memória reconstituída à imagem do seu criador.
Escrito em torno do que, depois dos vingadores de Charles Bronson, se tornou um vazio de ideias que glorifica a violência como resposta aos problemas sociais, leva ao extremo do mau gosto gráfico esse tipo de acção até que o gore se torna ridículo.
A realização acrescenta um desleixo profundo que respeita a rapidez de processos que fazia valer a quantidade de vísceras no ecrã para desviar a atenção da geral falta de qualidade do resto.
As décadas de 1970 e 80 que o filme traz à memória ficam completas com a escolha da banda sonora e acessórios, mas sobretudo com aquela composição visual que abusa dos filtros de cores garridas para conseguir o efeito de salão de arcada a fazer as vezes de discoteca até que tudo se torne doentio para os sentidos.
Mas o mais bizarramente impressionante é a forma como o filme consegue escapar ao mais pequeno traço de coerência para fazer aparecer dois cavaleiros com armaduras de sucata surgidos em motas que dificilmente conseguiriam conduzir e que têm tão mau aspecto que teriam sido mesmo rejeitados como figurantes em 2019: After the Fall of New York!
Um filme que tenta tão ferozmente ser mau tem de acabar por sê-lo e ouvir Rutger Hauer a falar de ursos ou a fazer um discurso motivacional para bebés que faz o público constringir-se no seu assento é a prova disso mesmo.
Se era suposto isto ser divertido como regresso nostálgico a um passado de categoria duvidosa, não consegue.
Preferia ter visto os vídeos de sem-abrigos em cenas de combate e auto-mutilação que um dos personagens anda a fazer ao longo do filme. Ao menos aí era violência gratuita sem mais nenhuma intenção ou tratamento estético!



 

Sem comentários:

Enviar um comentário