domingo, 18 de março de 2012

Stake Land, por Carlos Antunes


Título original: Stake Land
Realização: Jim Mickle
Argumento: Nick Damici e Jim Mickle
Elenco: Connor Paolo, Nick Damici e Kelly McGillis

Saí de Stake Land com a impressão de ter visto um interessante jogo de equilíbrio entre dois outros filmes, The Road e Zombieland.
Todo o trio fala, no essencial, do acto de comunhão possível entre uma figura tutelar e o jovem que o acompanha.
E este Stake Land combina a passagem de testemunho através da emoção silenciosa mais acentuada em The Road com a ressonância do futuro pós-apocalíptico como metáfora da actualidade que preenche o espaço significativo em torno da comédia de Zombieland.
É um filme que, por pouco, não se lhes equipara e que mereceu a honra de encerramento do MOTELx.
Um filme que reduziu as suas cenas de terror de acção (quase) a um mínimo para ir trabalhando a road trip contemplativa.
Viagem que se inicia como tema do filme quando o rapaz fica orfão e o caçador de vampiros parece sentir a falta de uma obrigação humana no seu percurso solitário.
O argumento consegue encontrar forma de criar um grupo heterogéneo de sobreviventes que se agrega a este duo essencial.
Um grupo de pessoas que são mal tratadas pelo futuro tenebroso mas que são também mal tratadas pelo presente: o veterano de guerra, a mãe adolescente e a religiosa "pura".
Todos foram vítimas indecentes de uma má escolha de em quem depositaram a sua confiança anteriormente. E o grupo que formam parece querer mostrar que ainda tem de haver 
Como as pequenas comunidades que visitam, compostas totalmente por americanos das classes mais baixas, mostram que reina a desconfiança mas ainda há momentos em que a felicidade pode brotar apesar do desastre eminente que pende sobre a sua cabeça.
O discurso toca ainda mais o presente estado dos EUA quando incluí um grupo de criminosos sobre a égide de se chamarem cristãos. Um extremismo interno e encapuzado que é evidente em vez de ter a construção mais subtil como cenário de fundo.
Substitua-se os vampiros pela crise e o resultado seria aproximado ao daquele país de casas abandonadas e falta de recursos que tem de criar valor do mal acidental com que sofre.
É outro dos traços interessantes do filme que, apesar de não dar explicações sobre o ponto a que chegou o mundo, demonstra com pormenores simples a dinâmica para a qual ele evoluiu. Como os caninos dos "vamps" (seres com traços de zombies, também) tornados moeda numa economia de troca (e mais paralelos com o presente se apresentam, então).
O cenário apocalíptico em que o filme se move é criado com enorme inteligência. Trata-se de saber escolher os lugares, saber onde colocar a câmara e saber iluminar ou obscurecer o enquandramento para, com recursos mínimos, sugerir o espaço em torno da tela e ganhar uma expressividade à responsabilidade do público.
Mas se a contemplação no seio desse cenário é importante, depende demais da voz narrativa que vem facilitar a expressão do que deveria ser traduzido em cenas - de diálogos, mas porque não silenciosas - entre personagens.
A voz narrativa - e explicativa, em muitos momentos - aproxima o filme do que acaba por sentir como a abusada "sensibilidade indie" que vemos repetida algumas vezes ao ano.
Isto torna o filme numa alegoria que se expressa na mistura entre terror e sentimento humano, tudo com traços vulgares dos quais o filme consegue extravasar algo superior à soma das suas partes.


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