quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Saga Twilight: Amanhecer - Parte 2, por Tiago Ramos

Realização: Bill Condon
Argumento: Melissa Rosenberg

Não há margem para mais: quem gostou da saga Twilight até ao momento, vai continuar a gostar; para quem nunca apreciou nem compreendeu o fenómeno, não é a partir deste capítulo final que isso vai finalmente acontecer. Mas o que chega esta semana às salas de cinema de todo o mundo - além de um curioso fenómeno que se conclui agora com  astronómicas expectativas comerciais - é também um objecto substancialmente melhor que os seus antecessores. Isto é possível, pois claro, porque a qualidade da saga tem vindo a diminuir ao longo de cada capítulo e The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 foi o atroz ponto baixo de toda ela. Tão atroz e cedente aos caprichos do marketing comercial que se desfez na novela amorosa que desenvolveu, acabando por mostrar um vazio - acima de tudo narrativo. Mas eis que chega a segunda parte e chega a ser incrível como há uma diferença incrível entre esta e a primeira parte, especialmente quando Bill Condon volta a sentar-se na cadeira da realização. Obviamente que o próprio argumento de Melissa Rosenberg ajudou a que tal acontecesse - aliado à história original de Stephenie Meyer que nunca foi extraordinária, muito pelo contrário - mas também se vê no trabalho do realizador uma direcção diferente e que se denota logo nos minutos iniciais do filme. É certo que esse trabalho anda muitas vezes nos limites do bom gosto, com uma tendência para o melodrama, absurdo mesmo para o género (para não falar daquele fenómeno bizarro a que chamam "imprinting"), excessivos efeitos digitais (e os que existem são na sua maioria de fraca qualidade - como é isso possível num orçamento tão elevado?), elevada lamechiche e uma certa moralização constante. É verdade também que, do ponto de vista cinematográfico, o filme não tem nada a destacar, até porque se reduz a um estilo que comummente se designa "estética MTV" onde, por vezes, mais parece efectivamente um videoclip, com os seus slow motions, música à mistura (a banda sonora, felizmente, continua a ser o ponto alto) e alguns brilhos (literais até) que apelam ao mau gosto.

Mas à parte de tudo isto há certamente uma melhoria na estrutura do filme e se, no caso da primeira parte, a história era tão aborrecida e inconsistente que deixava o espectador num estado de inércia constante, tal não acontece no segundo. A história consegue cativar o espectador pela breve mostra de adaptação de Bella à nova vida como vampira, mas também pela introdução de uma barreira na história que já não é mais aquele aborrecido triângulo amoroso que sempre permeou os capítulos anteriores. Esse conflito, que era quase inexistente nos filmes anteriores, cria uma tensão na narrativa, invulgar para a saga - para surpresa de muitos fãs, já que altera em parte a história original do livro - e até com a sua dose de violência gráfica e sexo (que chegam a resultar como uma lufada de ar fresco dentro de todo o melodrama e moralismo que tinha vindo a desenvolver-se). E, admirem-se!, até Kristen Stewart naquele que, no fundo, é um papel renovado e que assumia uma mudança na personagem, acompanha as necessidades da história e consegue revelar algumas novas expressões e energia, raras nos seus desempenhos (quase sempre) apáticos. O mesmo acontece com Robert Pattinson que melhora também ligeiramente o seu desempenho. As novas personagens são bastantes, por força da exigência da história, mas o argumento é bem gerido a esse nível, dando-lhes a importância necessária e revelando as suas especificidades. Pena que a forma como essas são retratadas - e falamos dos novos clãs de vampiros - são absolutamente ofensivas e estereotipadas: veja-se a necessidade de retratar um clã da Amazónia, com vestimentas tribais e maquilhagem; um clã irlandês, com apenas personagens ruivos (até sentiram necessidade de colocar uma boina a um) ou um clã russo que, apesar dos seus milhares de anos de existência, não conseguiu aperfeiçoar a pronúncia do seu inglês. Valha-nos os Volturi, aquela interessante realeza vampiresca inspirada nas sociedades secretas religiosas, sempre cativantes no papel de vilão - especialmente Michael Sheen e Dakota Fanning.

No fundo temos entre mãos um filme fraco, que sucumbe à lógica mainstream que sempre influenciou a saga numa espiral descendente, mas que é incrivelmente melhor que todos os capítulos anteriores. Não modifica a opinião geral da saga, mas funciona como entretenimento fácil, introduzindo novos elementos de tensão, tão bem-vindos numa história globalmente cheia de açúcar e vazia de alma.


Classificação:

4 comentários:

  1. Acredito, do que tenho lido nas criticas internacionais que esta obra é um pouco superior que as anteriores, mas mesmo assim não tenho muita crença nisto. O marketing em redor das obras é algo muito alienado e até mesmo um pouco bimbo, e que me perdoem, mas a historia de Stephenie Meyer é pouco inspiradora e com cheia de mensagens subliminares pouco decentes e a personagem de Bella é talvez uma das mais difíceis de simpatizar. Bem, mas até que fim que terminou, loool.

    Hugo Gomes, Cinematograficamente Falando ...

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    1. Eu concordo com o que dizes, Hugo. Aliás, se leres as minhas críticas anteriores vês que eu sou bastante crítico da saga e concordo contigo em tudo o que dizes. Acho que as apreciações positivas estão mais relacionadas com o facto de, depois de todos aqueles desastres, as expectativas estarem tão baixas, que este acabou por surpreender.

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  2. De fato "A saga Crepúsculo - Amanhecer pt II" é melhor que os demais mas, nem por isso pode-se considerar um bom filme!

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  3. Já o vi, e confirmo, na minha opinião é o pior da saga, não é por ter acção que o irei considerar o contrario, e aliás o final é tão vazio e hipócrita. Esta segunda parte demonstra as debilidades da historia de Stephenie Meyer, não existe personagens aqui, apenas bonecos, vampiros nem sombras, apenas um leque de abdominaveis criaturas que brilham á luz do sol e cada um possui poderes dignos da equipa X-Men. As mensagens subliminares são tão ofensivas até mesmo ao incurável dos românticos. Não, não me convenceu de certo.

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