domingo, 1 de junho de 2014

O Chef, por Carlos Antunes


Título original: Chef
Realização: 
Argumento: 

Jon Favreau era, até Chef, tudo menos um realizador interessante. A sua queda era notória desde o mediano Elf.
Enquanto argumentista e actor o caso era ainda mais gravoso, criando ou protagonizando uma quantidade de filmes irrelevantes que ameaçavam esgotar o crédito de simpatia que obtivera com Swingers.
Com este filme Favreau mostra que há uma única regra para contraria tal estado de coisasas: fazer um filme onde se tenha um interesse pessoal.
Longe de ser um grande filme, Chef consegue que o empenho que Favreau tem no filme instile no público uma sensação de sucesso e viço que parecem cada vez mais raros.
Rejeito reduzir o filme a um género, Favreau ganha a liberdade para ir criando um rumo ao longo dos temas que chama ao atrgumento e mantendo-o consistente pelo foco na sua personagem de homem que falhou - entre culpa própria e pressão alheia - e que tem de tombar para se reerguer.
Uma história de conquista pessoal e descoberta de novos padrões para a felicidade, mas adicionado de algo distinto a cada momento.
Aquilo que começa como um filme de cozinha - e a comida será, obviamente, o elemento mais constante até ao final - vai-se transformando num road movie ao serviço da história de um pai e de um filho que se redescobrem.
Cada momento do filme existe com lógica e consistência, não negligenciando nem o efeito imediato - dar a ver Nova Orleães, por exemplo - nem o resultado final - a possibilidade de alcançar o sucesso. A América e o seu sonho mais uma vez mostradas aos seus habitantes numa mensagem cada vez universal (de tão transmitida).
Desde a recriação realista e intensa do universo da Haute Cuisine à capacidade de escapar ao efeito bilhete-postal da América por onde passa, Favreau mostra que o prazer faz prevalecer o talento. Um prazer que é seu e que transmite ao público que logo se compromete com o que vê.
O comprometimento com a comida que faz e filma, a banda sonora latina inesperada ou um uso interessante da tecnologia em favor das conexões do filme (destaca-se a montagem da memória das viagens, habitual nestes filmes, que ganha realismo pelo uso de Apps de vídeo) reforçam a experiência de boa disposição proporcionada pelo filme.
Experiência não comprometida pelo erro de casting de Sofia Vergara - interpretação de uma nota só, num género de personagem cada vez mais agarrada à actriz - ou pela contraparte pior da tecnologia no cinema - mensagens de texto no ecrã, por vezes de forma redundante, bem como o humor feito com a generalização das fotos por via do telemóvel - ou mesmo por uma certa conveniência para fazer avançar o filme - o final feliz do filme precisava de mais trabalho de escrita e a cena de Robert Downey Jr. era escusada.
Admitindo sem problemas que a opinião sobre o filme poderá estar um pouco inflacionada pelo prazer gastronómico e que um visionamento mais distanciado poderá alterar a visão sobre Chef, a verdade é que o feel good resulta quase em pleno e isso permite a Favreau voltar a ser relevante.
Esperemos que não se perca de novo entre os projectos de blockbusters que já tem em agenda.


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