terça-feira, 25 de agosto de 2009

Elephant, por Tiago Ramos



Título original: Elephant (2003)
Realização: Gus Van Sant
Argumento: Gus Van Sant
Elenco: Alex Frost, Eric Deulen, John Robinson, Elias McConnell, Jordan Taylor e Carrie Finklea

Segundo filme da Trilogia da Morte de Gus Van Sant, Elephant elevou o prestígio do cineasta no Festival de Cannes 2003, arrecadando a Palma de Ouro, o prémio de Melhor Realizador e um prémio do Sistema Nacional de Educação Francês.



Tal como em Gerry (2002), primeiro filme desta trilogia, o cineasta começa Elephant com uma referência a The Shining (1980), de Stanley Kubrick. O plano inicial do carro na estrada, conjugado com a ideia de cruzamento e acaso. É esse mesmo cruzamento que provoca no filme a noção metafórica daqueles que vagueiam pelos cruzamentos das estradas e pelos cruzamentos dos corredores (quase labirínticos) do liceu e cujas vidas acabam por andar cruzadas e entrelaçadas.

Tendo como ponto de partido o Massacre de Columbine, Gus Van Sant cria o clima antecipador desse clímax da forma completamente contrário à que poderíamos supor. Um dia como todos os outros, um início austero e calmo. Uma calma por vezes exasperante, deixando o espectador angustiando perante tamanha complacência das personagens. Somos espectadores passivos, assistindo a mais um dia comum no liceu, à espera que o Mal chegue.

Mas Gus Van Sant isenta-nos directamente dos "porquês" de tais actos. Pretende apenas retratar o quotidiano no liceu, com tudo o que isso implica. A exlusão social, o preconceito, o bullying, o efeitos dos jogos de vídeo violentos e da televisão, as famílias divididas. Um quotidiano comum, percepecionado com planos longos, sons atmosféricos e uma banda sonora austera.



Elephant é portador de uma realização sublime de Gus Van Sant, num filme melancólico e contemplativo que aborda temáticas complexas e sensíveis, como a violência nas escolas e os factores sociais que a provocam. Num efeito curioso, o realizador identifica as figuras desafortunadas, com planos lentos, como que as identificando como vítimas.

O cineasta decompõe as cenas, com repetição das cenas. Por vezes, adiciona um outro ponto de vista da mesma cena e assim repete para a possível repetição do mesmo acontecimento. E é essa complacência que explora as emoções das personagens. Especialmente a do duo responsável pelo massacre que choca pela (nula) noção de Bem e Mal realçada pela calma mecânica dos seus gestos. Tudo sem explicação, ou pelo menos sem uma exacta, uma panóplia de factores que poderiam ter desencadeado tal acção ou nem um deles. É uma explicação (ou falta dela) feita de calma e ambiguidades.



O elefante, por ser um animal tão complexo, tem de ser estudado por partes. Esta é a metáfora aplicada a tal raciocínicio usado de forma tão sensível e realista por Gus Van Sant. Elephant tem um final igual ao início, as mesmas nuvens, o mesmo plano, como que um prenúncio que tudo se repetirá em mais um dia calmo.

Classificação:



2 comentários:

  1. Bem me parecia que ontem tinha lido, mas esquecido de comentar =P Falta colmatada.

    Um clássico instantâneo. Que nem um Alex DeLarge, também o Alex de Gus Van Sant é um profundo admirador de Beethoven; neste caso, também intérprete. Ambos os jovens são símbolos máximos da ultra-violência representada no cinema. Porém, este Alex de Elephant é muito mais do que metafórico: é... tão real. E com o seu comparsa, a violência surge representada sem preocupações morais, sem causa ou explicação, com intenções meramente artísticas. E é por isso que o filme é tão perturbante.

    Grande filme, dos melhores de Gus Van Sant. ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

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  2. Roberto F. A. Simões,
    É um excelente filme, mesmo. Não é o meu preferido: ficará talvez em terceiro lugar, a seguir a Milk e Paranoid Park. Mas concordo precisamente com essa noção de Gus Van Sant ter feito Arte sem se preocupar em criar algo moralista. Excelente.

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