segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma segunda juventude, por Carlos Antunes

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Título original:
Youth Without Youth
Realização: Francis Ford Coppola
Argumento: Francis Ford Coppola
Elenco: Tim Roth, Alexandra Maria Lara, Bruno Ganz

Coppola arrisca neste filme procurar a modernidade do cinema não deixando de fora a sua dimensão pessoal.
Uma segunda juventude não é mais do que uma enorme reflexão que nem por isso tem uma menor dimensão de filme de vasto público.
É, no fundo, a mesma dimensão que Coppola (e muitos dos movie brats) sempre procurou, a de ser reconhecido como autor no interior da indústria, como Capra, Hawks ou Ford.
No caso de Coppola bastará mesmo lembrar que criou o Estúdio Zoetrope como uma espécie de Major para cineastas europeus.
Esta história de Dominic Matei, um velho que atingido por um relâmpago ao invés de morrer de imediato se vê a rejuvenescer, não é fácil.
Mas é notável que a sua base seja um conceito mainstream que permitiria um qualquer devaneio mais aventuresco e pleno de efeitos.

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Dominic Matei sacrificou o seu amor ao trabalho da sua vida mas quando a sua reencontrada juventude lhe permite descobrir uma segunda encarnação de Laura.
Só que esta segunda encarnação de Laura é também o meio que permitirá a Dominic Matei completar o trabalho da sua vida, o que o obrigaria a sacrificar, de novo e de forma absoluta, o seu amor.
Entenda-se, então, que estamos perante um enorme retrato (reflexivo) psicológico de uma personagem intricada e dividida.

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No fundo, é uma história de amor intemporal (para os parâmetros do cinema) a dois tempos.
Mas é muito mais do que isso.
Há aqui o relato da fuga de Matei, Europa fora, do inevitável peso da sua extraordinária condição.
Há aqui uma tese (interrogativa) sobre as origens da História e da linguagem, sobre a leitura das religiões, sobre o encontro da carnalidade e da espiritualidade, sobre as noções da passagem do tempo.
Esta dicotomia que marca todo o filme é também o que o equilibra, impelindo cada componente por si mesmo.
Não sem o apoio – inevitável – de uma linha narrativa inteligentíssima e praticamente imaculada. Sobretudo, para lá de qualquer carga adicional, uma narrativa sólida e irrepreensível.
Acrescentemos a isso a busca – e inevitável concretização – de Coppola por uma redescoberta das possibilidades da realização, da próxima tendência, da próxima invenção.

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Acrescentemos a isso o notável trabalho dos actores ou o emocionante ritmo que nos mantém suspensos durante as duas horas sem hesitação.
Isso torna o rico trabalho “teórico” ainda mais rico pelas suas brilhantes qualidades plástica e emocional.
Por isso mesmo, o filme é uma extraordinária obra que não se esgotará nunca a nenhum visionamento.
Tudo o que o filme é, tudo o que ele poderá ser ainda, será sempre uma descoberta que permitirá ao espectador encontrar um filme sempre novo.
E Coppola confirma o que já se sabia dele, que é um autor com uma voz perfeitamente distinta.


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Crítica publicada originalmente a 8 de Maio de 2008.

2 comentários:

  1. Finalmente leio uma crítica positiva a Youth Without Youth. Quanto a mim foi um filme que Coppola fez em liberdade, e resultou. É uma excelente obra filosófica dotada de uma fotografia espantosa, interpretações soberbas e, claro, uma direcção exemplar.

    Abraço

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  2. Eu concordo com o Carlos e digo que a mim Coppola sabe-me melhor quando em liberdade. Youth Without Youth é uma excelente obra, muito complexa filosoficamente e belíssima... Tetro, apesar não ser tão complexo, é também de uma sensibilidade artística e livre, notável.

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