sábado, 24 de abril de 2010

Eu Amo-te Phillip Morris, por Carlos Antunes


Título original: I Love You Phillip Morris
Realização: Glenn Ficarra e John Requa
Argumento: Glenn Ficarra e John Requa
Elenco: Jim Carrey, Ewan McGregor, Leslie Mann e Rodrigo Santoro

Vinha lendo que I Love you Phillip Morris continha em si uma importante reflexão sobre, senão a cultura, pelo menos uma sensibilidade homossexual.
Eu não vi nada disso, mesmo tendo tentado determinadamente encarar isso mesmo.
Aquilo que vi foi uma história singular sobre um homem extraordinariamente inteligente dedicado a actividades ilegais por motivos de errónea identidade - em parte, sim, de sensibilidade homossexual, sem que isso seja bom para o retrato que se faz dessa comunidade.


Um homem que através de um acidente acorda da restrição sexual em que vive para finalmente assumir a sua homossexualidade.
Só depois disso vem o verdadeiro desafio identitário, tornando-se ele num burlão por ter de sustentar uma outra convenção sexual, a de que os homossexuais são todos profusamente conscientes do Estilo e que esse Estilo só pode ser vivido pelos parâmetros mais incomportáveis no que respeita à economia.
De um estereótipo a outro num passo, dois extremos da rendição à pressão social sobre os homossexuais.


O desafio que ele enfrentará surgirá mais tarde, quando já na prisão descobre o Amor e se assume como uma espécie de Padrinho de forma a manter o homem que ama.
Perante ele assume-se como várias coisas que não é, algo que tem de sustentar já cá fora, onde será advogado e director financeiro, só para acabar de novo na prisão sistematicamente tentando escapar para depois tirar de lá de dentro Phillip Morris (Ewan McGregor).
Steven Russell (Jim Carrey) nunca conseguirá definir aquilo que verdadeiramente é, sempre criando novas personalidades com vista a satisfazer aquilo que julgam ser as suas necessidade e as necessidades daqueles que estão com ele.


Ele é uma personagem de interesse sem que para tal fosse necessário sabermos que ele é homossexual.
É um burlão de enorme inteligência, capaz de sem qualquer educação descobrir uma forma de dar milhões a ganhar a uma empresa, aproveitando pelo caminho para tirar alguns milhares para si.
É um burlão capaz de inventar um plano de 10 meses para fugir da prisão e concretizá-lo de forma imaculada.
No entanto o seu conflito interior sobre quem é não vem ao de cima, a aposta vai antes para um humor algo banal, em vez de conseguirem que seja a própria existência destas personagens a ditarem o espanto do espectador.
Não admira, portanto, que Jim Carrey seja curioso mas não eficaz e que Ewan McGregor dê uma interpretação enfadonha e incaracterística.
I love you Phillip Morris deveria ser o filme que vimos Soderbergh executar de forma grandiosa em O Delator!, mas falta-lhe talento e visão para isso.



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