sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nada Pessoal, por Carlos Antunes


Título original: Nothing Personal
Realização: Urszula Antoniak
Argumento: Urszula Antoniak
Elenco: Stephen Rea e Lotte Verbeek

Eis um filme que se intui e não se explica. Um filme no qual não se buscam perguntas mas pressentem-se respostas.
Um filme que é um verdadeiro olhar de Cinema, uma experiência absorvente e gratificante.


Como os seus dois protagonistas, que se inibem de perguntas pessoais, também o filme se inibe de explicar de onde surgiram e porque surgiram estas duas personagens ali.
Haverá razões para que surjam no mesmo espaço e no mesmo momento, para se encontrem quando se tentam perder por completo do mundo.
Mas essas razões são a bagagem que ambos abandonaram. Os seus nomes, aquilo que até ali os definiu não contribui em nada para o seu encontro e para o seu entendimento.


Ele e ela apaixonam-se por aquilo que são naquele momento, tábua rasa um perante o outro, inicialmente pouco dispostos a preencherem-se mas inevitavelmente sujeitos a tal processo.
Vão admirar-se, entender-se, amar-se. Sem necessidade de rótulos ou explicações, sem necessidade de contextualização ou comparação.
Sem nada de pessoal eles são descobertas próprias e para o outro, terreno virgem para que floresça o mais belo que guarda a humanidade - por oposição às derrotas (talvez amorosas) que intuímos que eles sofreram anteriormente e que deixaram para trás da forma mais radical possível.


O isolamento é fonte de beleza, como fica aliás bem patente pelo fabuloso domínio dos silêncios que a realizadora faz e pela fotografia rica mas discreta. Fazem da expectativa e da intuição formas visuais de emoção crescente.
E, claro, Lotte Verbeek é arrebatadora, uma actriz com uma expressão única e que fica vincada no espectador, uma actriz que torna a austeridade inebriante para depois nos premiar com uma emoção acolhedora e que parece quase genuína.


Nada Pessoal é um filme onde ver e sentir tem uma importância rara e mesmo radical. O seu trunfo é ser um labor colado à pele da sua autora e dos seus actores e, por isso mesmo, do seu público.



6 comentários:

  1. Gosto muito de Stephen Rea, veria o filme por ele.

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  2. Não vi este filme mas julgar pelo artigo e pelas imagens, teria feito um maior efeito se a escolha feminina estivesse afastada da ideia mais comum de beleza feminina. Uma mulher mais madura, menos bela, talvez até gordinha... daria um efeito mais inesperado e realístico. Espreitando essa premissa, como pode um mulher tão bela não ter sido pretendida em vida e ter outro rumo na vida? Assim, parece mesmo que saiu a sorte grande a Stephen Rea...

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  3. Por acaso não me recordo assim de nenhum filme com um grande papel dele. Sugestões?

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  4. Mas isso daria também uma perspectiva errada: de que as mulheres bonitas nunca ficam sozinhas. :P

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  5. Só agora vi a crítica a este filme... Vi-o em ante-estreia, sem ter qualquer informação sobre o filme e fiquei simplesmente fascinado por apresentar uma história bem pensada e organizada, bem interpretada e muito bem filmada... Uma belíssima surpresa... Daria 4 estrelas!

    "Nada Pessoal é um filme onde ver e sentir tem uma importância rara e mesmo radical." - Não podia dizer melhor...

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  6. Eu era para ter ido à antestreia também (aliás, até oferecemos bilhetes para este filme aqui), mas acabei por não poder ir. Mas lamento, pois todos me falam muito bem dele.

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