sábado, 21 de agosto de 2010

Salt, por Carlos Antunes


Título original: Salt
Realização: Phillip Noyce
Argumento: Kurt Wimmer
Elenco: Angelina Jolie, Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor

Se a Guerra Fria foi o melhor ambiente para filmes de espionagem a ideia de recupar os seus resquícios para o tempo presente é útil e interessante.
Com essa recuperação não só se evitam as desastrosas historietas modernas do género como se permite a ligação de um velho e confortável ambiente a uma forma moderna de abordar o género.


A recuperação da URSS não envolve uma filiação política do filme e ainda bem pois essa só serviria propósitos inusitados para o ano 2011 (o ano em que se passa a acção).
O essencial de Salt é a forma como as informações são dispostas à nossa frente. Se a informação não tiver sido resguardada para o momento certo, o thriller acabaria de imediato para um espectador atento.
Que a dedicação seja ao filme e não a um qualquer pano de fundo permite, pelo menos, que o espectador se sinta motivado por um filme que, da forma como se cola à possibilidade de sequela, tem inevitavelmente de ser visto como entretenimento.


Claro que há estratégias no filme que os espectadores que já viram dezenas de filmes do género descortinarão facilmente, mas os pontos essenciais, as revelações e as motivações - de que, obviamente, não posso aqui falar - são bem manipulados.
Em boa parte trata-se de um trabalho cuidado do argumento mas há algo de mais premente a contribuir para tal resultado, os actores.
Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor são secundários mas credíveis, capazes de contribuir com emoções e dúvidas que tornam as suas personagens e as acções destas mais credíveis mesmo que mais dúbias na sua motivação.
E Angelina Jolie, o cerne do filme, entrega-se sem restrições, não só físicas mas certamente emocionais para uma personagem que faz o filme e que, a falhar, de forma tão fácil também o destruiria.


Ela dá a cada cena de acção a sua máxima dedicação e, mesmo quando são cenas para lá da credibilidade, em que ela surge mais como super-heróina do que como espia, a sua presença sobrepõem-se a isso.
Queira-se ou não, Angelina Jolie é um nome - e uma actriz - capaz de encher um filme - e uma sala - por si mesma e tem demonstrado mais versatilidade e talento em tempos recentes.
O facto do filme ter sido reescrito para ela não se nota. Pelo contrário, com ela parecem ter podido ser mais sugestivos na importância da mulher numa profissão assim.
O inesperado é igualmente o interessante, que uma mulher escape às funções secretariais ou sedutoras da espionagem e esteja par a par com os "homens de acção".


E a acção, fulcral aqui, é bem pensada, composta do princípio ao fim com coerência e consciência global dos seus espaços e tempos.
A execução não é óptima mas tem qualidade e tem, mais do que isso, a mais-valia de não depender de uma montagem frenética - ou tão frenética - como nos filmes de espionagem recentes onde Bourne é a bitola mais evidente.
A culpa dessa comparação é dos próprios envolvidos no filme que têm atirado essa outra saga à cara dos possíveis espectadores. E, no entanto, têm uma clara vantagem sobre ela, a de conseguirem constituir a acção como algo possível de ser seguido com um olhar penetrante em vez de tornar exigir habilidades sobre-humanas para seguir a perseguição.


Salt é, como quase sempre nestes casos, um indivíduo sozinho e incompreendido a tentar salvar o mundo da aniquilação.
Que esse indivíduo seja uma mulher e que essa mulher seja Angelina Jolie transportam o filme mais para cima do que o esperado.
Isto sem tirar o mérito à realização, ao argumento e à qualidade da cinematografia.



4 comentários:

  1. Ainda não vi SALT, pra falar a verdade não é um filme que estou com uma vontade imensa de conferir, mais não tem como você não resistir ao poder de Jolie, rs
    Apesar de tudo o filme parece ser uma forma bacana de entretenimento!
    Bom texto!
    Abs.
    cinemapublico.blogspot.com

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  2. Jolie parece ser uma escolha perfeita para o papel. Quero ver, sem esperar por muita coisa.

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  3. O cinema de acção é mesmo um género que encaixa muito bem nela.

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  4. Obrigado pela visita Alan e desde já parabéns pelo blogue. Sou um visitante assíduo.

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