domingo, 2 de outubro de 2011

Amor, Estúpido e Louco, por Carlos Antunes


Título original: Crazy, Stupid, Love
Realização: Glenn Ficarra e John Requa
Argumento: Dan Fogelman
Elenco: Steve Carell, Ryan Gosling, Julianne Moore, Emma Stone, Marisa Tomei e Kevin Bacon

Há um mosaico de paixões neste filme feito de demasiadas coincidências para não o vermos como o embrulho cómico - e eventualmente feliz - da complicada realidade.
Curioso nesse embrulho é que ele não é feito para Steve Carell, que está mais próximo da figura tragicómica que ele apurou em Little Miss Sunshine e Dan in Real Life. Afinal ele tem a seu lado Julianne Moore que traz uma dignidade ao seu papel onde a miséria se deveria tornar humor.
Talvez por esse desequilíbrio, de Carrel não estar ao nível dramático de Moore e, por outro lado, Moore ter esse talento que não lhe permite parodiar-se a fundo, esse bloco central do filme nem sempre resulta.
Há algumas cenas em que o efeito do conjunto resulta, cenas dramáticas que perdem o travo amargo com um toque de humor bem colocado e inesperado. Mas o equilíbrio entre o humor e o drama tende demasiadas vezes para o lado da gargalhada exagerada impedindo que o drama seja mais credível ou, no mínimo, mais sentido.
Se olharmos para a cena do discurso é inevitável não sentir que há uma intervenção descuidada que estraga o momento. A intervenção - um pouco humilhante - de Carell mostra o quão fácil e genérico é o discurso que toca o coração de todos enquanto resolução para os filmes quando, na verdade, o cinismo na voz de um miúdo de 13 anos estava a ser mais interessante.
A oscilação é grande e deveria ter sido melhor dominada para que o espectador tivesse o mesmo sentimento positivo com todo o filme que tem, certamente, com o bloco central que é todo humor.
Um bloco central que escapa ao drama de Carell-Moore e que se assemelha à construção do cenário apropriado tanto a uma comédia romântica como a um bromance, sem ter de percorrer os padrões de resolução que se seguiriam.
Um bloco dado a Ryan Gosling, o melhor humorista do filme que tem, ainda para mais, Emma Stone a seu lado, apoiando-o na química necessária para fazer deste casal o mais interessante do filme - e, arrisco dizer, aquele que as pessoas queriam ver a ocupar a totalidade da longa-metragem.
O seu sedutor cheio de surpreendentes frases de engate é delicioso de acompanhar nos seus muitos momentos no bar - e a montagem feita ajuda muito a esse efeito - ou nos seus ensinamentos a Steve Carell.
É uma personagem no limite do "seboso", um pouco mais intensa e tornar-se-ia desprezível, tal como está dá prazer gostar dela e vê-la absolver-se.
Talvez seja por esta surpresa proporcionado por Gosling que não se consiga deixar de gostar do filme, pois ainda que não seja coeso, é um filme fluído e agradável que beneficia de um final em aberto para não ter de compôr totalmente o laço que preparou e, com isso, mostrar de que o drama não tinha realmente qualquer importância aqui senão como complemento (ou tentativa de dar maturidade) ao humor.


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