quarta-feira, 6 de junho de 2012

Prometheus, por Tiago Ramos



Título original: Prometheus (2012)
Realização: Ridley Scott
Argumento: Jon Spaihts, Damon Lindelof

Em 1987, Paul Gauguin pintou um dos seus mais famosos quadros onde inscreveu em letras capitais e sem ponto de interrogação "D'où Venons Nous / Que Sommes Nous / Où Allons Nous". O pintor francês imortalizou assim as três questões que mais perseguem a Humanidade desde sempre e que foram e são repetidas vezes colocadas: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?. Questões que poderão ou não ter resposta, mas que bem ilustram a busca do ser humano pelo sentido da própria vida. Ridley Scott parte desse mesmo tema e dessa busca inesgotável pelo conhecimento para criar em Prometheus um interessante mote e que vai bem mais além do mero filme de acção e ficção-científica. Ansiado na expectativa de uma prequela de Alien (1979) - que o próprio cineasta já negou - a verdade é que é inevitável não o vermos com um olhar comparativo, mas que a mim me parece injusto, já que embora pisque o olho aos fãs da saga, não fornece tantas respostas como o que alguns desses fãs poderiam esperar. Olhá-lo como uma prequela ou não de Alien é uma questão subjectiva e que cabe a cada um dos espectadores avaliar, contudo caso se opte pela comparação, não se deve negar Prometheus como um bom filme de ficção-científica, auto-suficiente e que sobrevive bem além das comparações.

Seguindo a linha comum dos filmes do género, a verdade é que Ridley Scott mantém-se como um mestre do género, mas alicerça-se bem no argumento de Jon Spaihts e Damon Lindelof (este último, argumentista de LOST) e que, para o bem e para o mal, respira os seus temas mais comuns. Bem equilibrado entre Religião, Mitologia e Ciência, a sua estrutura vai além dos arquétipos do género, construindo um argumento estruturado em dois interessante actos que permitem um reconhecimento adequado das personagens, bem como do contexto espaço-temporal, para partir para um segundo acto mais intenso e cheio de ritmo e acção. Não quer isto dizer que com tantas e interessantes ideias do ponto de vista biológico, teológico e filosófico que o filme não acabe por se perder dentro de tamanha ambição. Já que é algo habitual, especialmente para quem conhece o trabalho de Damon Lindelof, sendo que este Prometheus acaba por levantar ainda mais questões que respostas e gera alguns buracos narrativos que seriam interessantes de resolver. Não são porém essas falhas que tiram o mérito ao filme, que se revela um dos mais interessantes e fascinantes filmes de ficção-científica dos últimos anos. 

O argumento é bem carregado pelo elenco de actores, de onde se destaca uma incrível Noomi Rapace que assegura o seu lugar junto ao panteão de mulheres destemidas do género, ao lado de Sigourney Weaver, como Ripley na saga Alien. Não ignorando também o maravilhoso trabalho de Michael Fassbender como uma composição inteligentemente bem concebida de um andróide e o de Charlize Theron, a merecer também lugar de destaque pela sua prestação forte e gélida.

Se essa narrativa tinha potencial para algo mais, não há como negar o portento técnico e visual criado para Prometheus. Estamos perante um universo rico e detalhado, com efeitos especiais invejáveis a qualquer produção do género dos últimos anos, num trabalho impressionante a nível de efeitos visuais (WETA digital), fotografia (Dariusz Wolski) e design de produção (Arthur Max). São estes aspectos técnicos que permitem ao filme, mesmo quando o argumento não atinge o nível de tensão correcto (pessoalmente, gostaria de ter sentido uma componente de mais terror e claustrofóbica), ganhar pontos num bom equilíbrio a nível sonoro com os sons ambiente, bem como num constante jogo de luz e sombra. Não descartemos igualmente a boa banda sonora de Marc Streitenfeld. O 3D é também ele a prova que a utilização desta técnica não necessita se basear nos conceitos comuns de imagem pop-up, conseguindo ser utilizado de uma forma equilibrada e não fatigante, bastante subtil, mas rico na construção da profundidade de campo.

Prometheus pode não ser o melhor filme de ficção-científica de sempre, mas é com certeza a prova que Ridley Scott é um mestre do género, sendo capaz de ser inteligente e garantir entretenimento, simultaneamente. Não há dúvidas porém que é capaz de se manter seguro ao lado de outros bons filmes do género, entre eles o Alien.


Classificação:

2 comentários:

  1. Só não concordo com duas coisas:
    A Banda Sonora, não gostei, achei fraca e não cria ambiente. Faz lembrar Os Encontros Imediatos do 3º grau.
    E o 3D. Não acho que crie a profundidade de que fala. Muito longe do que o AVATAR e o HUGO conseguiram fazer. 

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  2. Quero ver, sou fã do género. Bom apontamento.

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