Título original: Excision
Realização: Richard Bates Jr.
Argumento: Richard Bates Jr.
Elenco: AnnaLynne McCord, Traci Lords, Roger Bart e Ariel Winter
Não houve filme que causasse maior gáudio entre a multidão que a ele assistia. E não huve filme que causasse maior desapontamento ao público do MOTELx.
Tudo porque este foi dos filmes que menos se integrava na ideia que se faz do que deve ser um filme para o festival.
Apesar de alguns sonhos macabros visualmente exaltantes - e coerentes, um factor importante que passa ao lado de muitos realizadores "imaginativos" - não há concretização do terror latente.
Esses sonhos tornam-se num elemento estranho ao que o filme se mostra, tornando-o a sua presença um contra-senso num festival de cinema de terror.
Elemento tão estranho como as conversas privadas que a protagonista mantem com Deus e que têm um efeito cómico pronunciado mas não são coerentes com o restante estilo.
Comédia é, aliás, o que de mais interessante tem o filme. Uma comédia juvenil arrevesada, um Juno com as hormonas orientadas para o lado errado da experimentação.
O risco é limitado, pois todos gostam de ver a cabeça da rapariga mais popular do liceu ser atirada, em câmara lenta, contra a porta do seu cacifo.
Já os diálogos e a disposição da personagem central diferenciam-se o suficiente para merecer algum relevo.
AnnaLynne McCord representa com uma selvajaria que leva ao limite a independência tanta vez confundida com desajustamento no universo do liceu americano.
A sua pose assemelha-se ao de um predador calmo mesmo antes do ataque e o seu desgrenhado cabelo fá-la aproxima-a de um estado primitivo que se baseia num instinto indiferente à civilização que a rodeia.
A sua relação com a própria família está em causa como epicentro de uma relação com a própria América onde as aspirações são manietadas por códigos morais rígidos e retrógados.
Esse cenário de fundo leva a que o filme não seja somente sobre os anseios de se tornar cirurgiã de uma rapariga castrada pela influência religiosa sob as famílias das pequenas aldeias, mas mesmo assim não vai mais determinadamente nessa direcção.
Tudo porque o filme insiste nessa ideia de que há que representar a obsessão da protagonista com recurso ao terror e encaminhar o filme para um previsível final em que, afinal, nada se vê do muito sangue sonhado.
A história de reconciliação da família pela prova de amor que esse acto que fecha o filme - e um dos mais reprovado pela América - sofre de uma falta de precisão narrativa que é escondida durante bastante tempo pela força das qualildades que o filme vai demonstrando.
Essa precisão que era uma mais valia da curta-metragem original, apesar de algumas imprecisões narrativas provenientes do formato mais contido.
Basta comparar os finais de ambas as versões para perceber o quanto mais esclarecedor é o da curta que beneficia ainda de uma protagonista bastante mais talentosa que acentua a angústia adolescente em vez de tentar criar uma aura de personalidade à margem digna de admiração.
Um caso em que a passagem para um formato longo não serviu para reforçar o essencial mas para acentuar os detalhes incompatíveis.
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