O episódio número 108 não podia deixar de ser especial. A narrativa, escrita por Damon Lindelof e Carlton Cuse, leva-nos a conhecer a vida de Jack X e a sua família, enquanto Jack é levado por Hurley a descobrir a origem das suas ligações à Ilha. O resultado foi um episódio ao nível dos melhores da série, com uma forte carga emocional e grandes revelações a nível da mitologia da Ilha.
Mundo Paralelo
A vida deste Jack é bastante diferente daquilo que conhecemos do Jack da realidade original. O episódio começa com retratos da sua família, em que Jack sorri ao lado do pai. Não lhe conseguimos ver tatuagens no braço, mas é visível a cicatriz da operação ao apêndice.
Na realidade original, Jack teve um problema no apêndice quando liderava a saída do grupo da Ilha, tendo sido operado por Juliet. Nesta realidade, no entanto, Jack foi operado aos 7 anos de idade. O curioso é a estranha sensação que Jack tem quando se vê ao espelho, por não se lembrar de ter sido operado. Em todos os episódios desta realidade, temos visto a mente dos personagens divagar quando se olham ao espelho. O olhar através do reflexo torna-se um tema recorrente e é fácil de associar aos contos de fantasia e à ideia de que há outros mundos para lá do espelho.
O livro Alice não surge por acaso neste episódio. Remete-nos directamente para o "White Rabbit" (1.05) cujo título é, em si, uma referência ao livro. O episódio, especialmente focado no relacionamento entre o Jack e o seu filho David, estabelece um paralelo com o da primeira temporada, centrado na relação entre Christian e Jack.
É uma mudança significativa que Jack tenha um filho. Não sabemos quem seja a mãe, nem há quanto tempo estejam separados. David sente em Jack a mesma pressão que este sentia da parte de Christian. No entanto, a mãe de Jack chama-lhe a atenção para o que se possa estar a passar com o filho. É isto que faz com que estes se reconciliem, algo refrescante para uma série em que os problemas entre pais e filhos têm ficado sempre sem uma boa resolução.
É comovente o momento em que Jack vê o seu filho tocar piano, percebemos o orgulho que sente por ele. Dogen, cujo filho é também pianista, reconhece que David tem um dom. E rapidamente isso reflecte na nossa mente imagens de uma outra realidade e vários personagens de quem foi dito serem especiais, ou terem um dom...
Mundo Original / Jack
Jack encontra-se no exterior do Templo e observa o seu próprio reflexo, enquanto digere a informação recebida sobre o Sayid e a Claire, quando Dogen o encontra para falar do James, Kate e Jin. Dogen está preocupado com o que lhes possa acontecer fora da sua protecção. Entretanto, Hurley encontra Jacob junto à fonte, que o instrui sobre a forma como proceder para ajudar uma pessoa a encontrar a Ilha. Infelizmente, não dá para perceber o que está Jacob a fazer à água da fonte.
Hurley explora o Templo à procura de uma passagem secreta, mas é interrompido por Dogen, que o manda regressar para junto dos outros. Destaco esta cena, por ser um momento brilhante para o Hurley: comandado por Jacob, diz a Dogen que é um candidato e pode fazer o que lhe apetecer. Apercebendo-se da autoridade que acabou de ganhar, é ele quem manda Dogen ir para trás. Em japonês, este responde que tem o dever de proteger o Hurley e essa é a sua sorte, senão arrancava-lhe a cabeça.
Jacob insiste que é preciso que Jack acompanhe o Hurley. Para o convencer, basta usar as palavras mágicas "you have what it takes". Jack lembra-se imediatamente do seu pai e a necessidade de aprovação que sempre teve da sua parte, ficando assim convencido a seguir o Hurley: Jack precisa de saber quem é o Jacob e porque é que ele sabe tanto sobre a sua vida.
No exterior, encontram Kate. Jack quer que ela os acompanhe, mas Hurley opõe-se e Kate também não se mostra interessada: a sua prioridade é encontrar a Claire. O caminho indicado por Jacob leva-os até às grutas onde os sobreviventes do 815 viveram durante algum tempo. À entrada, encontram o inalador da Shannon, uma inside joke alusiva à Comic-Con 2009, em que Jorge Garcia (Hurley) pergunta aos produtores Damon Lindelof e Carlton Cuse se iriam de facto responder a todos os mistérios que realmente importam, incluindo o paradeiro do inalador da Shannon, pelo qual o Sayid torturou o Sawyer.
O motivo pelo qual Jacob indicou aquele caminho é claro: relembrar o Jack da forma como encontrou as grutas. No episódio "White Rabbit" (1.05), Jack segue o
fantasma do seu pai até ao local onde se encontra o caixão que o transportava, já vazio. Hurley já não se lembrava dos
esqueletos que lá se encontram. Claramente, os produtores quiseram relembrar os espectadores mais distraídos dos corpos cuja história permanece uma das maiores incógnitas da série e está directamente ligada à
temática do Preto e Branco. A teoria mais popular entre os fãs é aqui colocada na voz do Hurley: e se o "Adão e Eva" forem dois deles, ou eles próprios, deslocados no tempo?
A chegada ao farol leva-nos a um dos momentos mais brilhantes da série. Afinal, o interior da estrutura tem mais do que uma simples fonte de luz: um conjunto de espelhos por cima de uma roda mecânica, que Hurley tem de girar até a agulha indicar os 108º. Aos poucos, é-nos revelada uma lista de nomes riscados, quando Jack se apercebe de algo no espelho. O que acontece é algo mágico: a cada posição do espelho, está associado o nome de um candidato, sendo visível o reflexo de um local associado a essa pessoa. Está presente a ideia de que os espelhos são uma janela para outros mundos, neste caso, para outros locais. O espelho reflecte os candidatos, os seus nomes são escritos na posição onde essa imagem pode ser encontrada.
Na
análise ao episódio anterior, comentei que os nomes escritos na caverna não aparentavam ser coerentes com a organização e minúcia que associamos ao Jacob. Essa ideia é reforçada aqui, onde a lista de nomes foi escrita com uma letra cuidada. A lista do farol parece um trabalho que levou tempo a ser concluído, mas os nomes que vemos na caverna parecem ter sido escritos à pressa. A ausência do nome da Kate na gruta foi algo curioso mas, neste episódio, podemos ver Austen escrito junto à posição
51. Uma curiosidade em relação ao espelho é o facto deste mostrar, na posição 42, o templo onde Jin e Sun se casaram. O Black Smoke não sabia se o candidato 42 seria o Jin ou a Sun, mas este reflexo pode indicar de que o candidato em questão seja o próprio casal.
O nome associado ao grau 108 é Wallace. Está riscado, mas pertence a um candidato que nos é desconhecido. Será este Wallace a pessoa que Jacob aguarda? A análise das imagens confirma que nem todos os nomes riscados são de pessoas mortas, como (Ben) Linus com o número 117. Podem ser simplesmente pessoas que "já não servem" para o cargo, seja qual for o critério que define essa aptidão.
Jack destrói o espelho. A descoberta de que o seu nome sempre esteve associado à Ilha e que tem sido observado durante toda a sua vida causa-lhe um grande impacto emocional. Jacob não está preocupado com a perda da ferramenta, a sua prioridade é fazer com que Jack compreenda o quão importante é para a Ilha e levá-lo a cumprir o seu destino. Além disso, ele precisava de tirar o Jack e o Hurley do Templo para os resguardar de alguém mal intencionado. Jacob diz que é tarde demais para os avisar, o que poderá deixar Kate, Miles e os Others em perigo. Será Dogen capaz de os proteger?
Mundo Original / Claire
Claire encontra Jin e liberta-o da armadilha preparada pela própria. Diz-lhe que tem estado na Ilha desde que todos saíram (com a conotação de quem se sentiu abandonada) e decide levar Jin para um local "seguro". A tenda da Claire contém uma colecção de objectos que variam entre o bizarro e o perigoso, especialmente no que diz respeito aos explosivos colocados mesmo ao lado do colchão. Mas o que realmente se destaca é o pequeno berço com um esqueleto no interior revestido com peles de animais.
Há que salientar o excelente desempenho da actriz Emilie de Ravin neste papel. Claire enlouqueceu: está obcecada com o filho, acredita que os Others o têm e ameaça matar um seu prisioneiro caso este não conte onde está o Aaron. É irónica a sua preocupação com o Jin, quando lhe trata da ferida e diz que uma infecção o pode matar. Claire discute o facto dos Others terem levado o seu filho, alegando que foi o seu pai que lhe contou e, depois, o seu "amigo" confirmou, portanto tem a certeza. Jin está assustado e informa-a que foi a Kate quem levou a criança, mas a reacção da Claire é ainda pior.
O Other prisioneiro diz a verdade, mas acaba morto. Claire revela que passou pelo mesmo teste que vimos Dogen fazer ao Sayid, o que provavelmente facilitou a argumentação do seu "amigo". Jin retira o que disse sobre a Kate, e Claire revela que se a história fosse mesmo verdade, matava-a. Definitivamente um mau presságio para o reencontro entre estas duas amigas. É neste momento que Smoke aparece. Jin está surpreendido por ver John Locke, mas a Claire rapidamente o esclarece: "não é o John, este é o meu amigo"!
Com isto, temos a confirmação de que a
infecção coloca as pessoas do lado do Black Smoke. Não necessariamente controladas por ele, mas seguramente aliadas e manipuladas. Claire faz a distinção entre o seu
pai e o seu
amigo, o que elimina a possibilidade de Christian ser uma manifestação do Black Smoke. É agora mais plausível afirmar que o seu corpo tenha sido "reclamado", como aconteceu à Claire e ao Sayid. Agora que têm uma forma de aceder ao Templo, o confronto com os Others está iminente. Irá Ilana chegar a tempo de agir? O encontro destes dois grupos trará consigo o tão esperado reencontro entre Jin e Sun. Mas há que relembrar também que
Sun traz no bolso o anel que pertencia ao Charlie. Irá isto causar algum impacto na Claire? Poderá algum infectado ser salvo?