segunda-feira, 5 de abril de 2010

Chungking Express, por Tiago Ramos



Título original: Chung Hing sam lam (1994)
Realização: Wong Kar-Wai
Argumento: Wong Kar-Wai
Elenco: Brigitte Lin, Faye Wong, Takeshi Kaneshiro, Valerie Chow e Tony Leung Chiu Wai

Wong Kar-Wai precisou de descansar. Ashes of Time foi filmado no mesmo ano e o cineasta chinês estava de rastos pela construção desse épico de artes marciais e daí nasceu este Chungking Express, produzido em tempo recorde: 23 dias. E de facto, os prazos de validade dão o mote à história. Se o amor tem um prazo de validade, então que dure dez mil anos.



Wong Kar-Wai é o cineasta mais lírico e romântico de sempre. Tal como em suas outras obras, aqui o que vemos é poesia no seu estado puro, é a poesia fílmica, um sentido estético perfeito e sublime, mas que não subverte sequer a mensagem que tem para transmitir. É o poeta do amor focado nas relações interpessoais, um excelente contador de histórias, um perpetuador da história de amor de qualquer uma das suas personagens. O que ele quer é precisamente o que nós também queremos e sentimos: que a história seja nossa, que ali estejamos nós, que nos identifiquemos.

Mas curiosamente e não obstante obras belíssimas como In the Mood for Love (ler crítica) ou 2046 (ler crítica) que são autênticas odes ao amor, Chungking Express é precisamente o filme mais despretensioso, sintetizado e despojado e que revelou ao mundo aquilo que o cineasta é hoje em dia. Porém, nunca mais conseguiu trazer um romance tão fresco e simples como este. Isto porque se em obras posteriores, o sentido estético acabava por camuflar a história do filme, neste Chungking Express temos um balanço perfeito entre a estética e o argumento.



As personagens do filme não são o mais importante, todas elas contam uma história, mas são apenas metáforas da poesia filmada por Wong Kar-Wai. Mas são também elas bastante completas. Neste caso, temos duas histórias paralelas sobre o amor e a dor da separação. Um relacionamento com data de validade como as latas de ananás que a personagem insiste em ingerir, mas que ao mesmo tempo é uma história de um novo amor, uma paixão por uma personagem enigmática, qual Greta Garbo, numa clara referência ao cinema de Hollywood. Ou ainda a história de um amor gradual, feito de olhares despercebidos, ao som de California Dreaming.

Histórias distintas sobre o amor, filmadas não linearmente, como é usual no cinema de Wong Kar-Wai. A sua narrativa é fragmentada - tal como o poster que ilustra esta crítica - feita de pequenos momentos e gestos, quotidianos de vida. E depois temos um magnífico e electrizante retrato de Hong Kong: brilhante, frenético, globalizada, bares 24 hours open e multicultural. E o Amor confunde-se nessa cidade, também ele frenético, intenso e colorido.



Tecnicamente, não há ninguém igual a Wong Kar-Wai que se rodeou desde cedo de uma equipa de grande qualidade, mas que sem ele nunca se teriam tornado o que são hoje. Um dos casos mais flagrantes é o director de fotografia Christopher Doyle, cuja tarefa de colocar em cena a visão do cineasta chinês resulta num dos melhores trabalhos fotográficos de sempre e Chungking Express não é excepção. Ou ainda a frenética montagem de William Chang, Kit-Wai Kai e Chi-Leung Kwong.

Chungking Express é uma obra de culto eterna e uma das melhores de Wong Kar-Wai. É moderna, vanguardista, mas romântica e terna. É poesia, é amor, é pureza.



Classificação:


2 comentários:

  1. Ai paaa... Que provocação! Quero muito ver o filme e falaste tão bem dele. Tendo a concordar contigo quando dizes que "Wong Kar-Wai é o cineasta mais lírico e romântico de sempre". Não há, de facto, ninguém como ele.

    Cumps.
    Roberto Simões
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  2. Eu gostei bastante! Para mim é um dos melhores clássicos dos anos 90. Wong Kar-Wai é um cineasta fantástico.

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