quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Caso Farewell, por Tiago Ramos



Título original: L'affaire Farewell (2009)
Realização: Christian Carion
Argumento:
Christian Carion, Serguei Kostine e Eric Raynaud
Com 47 anos, o currículo do francês Christian Carion não é muito extenso. Iniciou-se em 2001 com uma comédia que passou despercebida no circuito comercial Une hirondelle a fait le printemps (Uma Andorinha Fez a Primavera, em português), mas em 2005 na sua segunda longa-metragem seduziu a crítica mundial com Joyeux Noël, um drama clássico e simples sobre a Primeira Guerra Mundial, vista pelos olhos dos soldados alemães, franceses e britânicos e que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.



Quatro anos depois, Christian Carion regressa e volta a utilizar uma época tumultuosa como pano de fundo para a sua terceira longa-metragem: a Guerra Fria. Poderia ser um típico filme de espionagem, mas acaba por não o ser. Podia ser um thriller político duro na verdadeira acepção da palavra mas não o é. Na verdade, O Caso Farewell é um drama mais humano e pessoal, não tanto sobre a espionagem no sentido lato, mas as motivações e consequências dos seres humanos que trabalham nesse sentido. Ao mesmo tempo é olhando através das expectativas e anseios das personagens do filme que conseguimos olhar para a história como um retrato sociológico sobre a queda de um regime que anteriormente havia criado esperança, mas que culminou na desilusão de quem espera.

Raras vezes consegue manter tensão – salvo na cena final – mas se pensarmos bem, não era essa a intenção do cineasta. Afinal este não é um filme de espionagem comum e embora se divida entre o drama familiar e o filme de género, nunca se foca em nenhum em particular. A ideia não é criar tensão para o espectador, mas despertar sentimentos nele, observar a relação de amizade entre um coronel do KGB, desiludido com o regime e um engenheiro francês. É observar a forma como essa amizade evolui de uma desconfiança inicial, com expectativas e desilusões e dramas de vida. Porque por detrás desses homens que querem um futuro melhor para os seus filhos – mesmo que não cheguem a viver esse período – existem vidas e famílias, quase em ruptura, à beira de impasses contínuos e relações atribuladas, em meio a desconfiança. E nessa relação temos dois desempenhos a salientar: de um lado Emir Kusturica, do outro Guillaume Canet, ambos realizadores e que preenchem devidamente as lacunas que o argumento do filme presente – nomeadamente a falta de um fio condutor que una estas duas vertentes da história.



Pena que depois encontremos personagens secundárias de função quase irrelevante e que pouca profundidade narrativa conseguem trazer ao filme. Desde uma Diane Kruger que aparece segundos durante o filme, como figurante, a um Fred Ward, a interpretar o papel de Donald Reagan – sempre a assistir a um filme de John Ford – ou um curioso Philippe Magnan como François Miterrand ou ainda um aparentemente sem escrúpulos Willem Dafoe ou uma Alexandra Maria Lara sem grande destaque. Bons actores desperdiçados.

No entanto, é inquestionável o estilo clássico – aparentemente fora de moda, mas que tão bem sabe assistir – de Christian Carion. Os cenários pacatos de uma cidade de Moscovo militarizada, mas aparentemente tão feliz e tão absorta no seu quotidiano, uma banda sonora recheada de êxitos da música pop dos anos 80 – brilhante referência contínua aos Queen, quando o mundo ocidental entra em conflito com uma URSS fechada -, algumas imagens de arquivo, ou as personagens que apenas trabalham por amor a um ideal e a troco de música e poesia. Pormenores doces que funcionam bem numa história de espionagem, longe das tradicionais. «Casei com um engenheiro, não com o James Bond», diz a mulher do engenheiro francês. E isso explica o espírito do filme: simples e humano.



A sequência final – mesmo simples e previsível – encerra um drama humano quase clássico, embora sem grande destaque técnico, e uma história bem contada.

Classificação:



2 comentários:

  1. Hmm ainda bem que gostaste. Assim vai-me dar mais vontade de ver o filme quando voltar de férias. É que... estava um pouco renitente. Não me entusiasmava o projecto.

    Abraço,

    Jorge Rodrigues
    http://dialpforpopcorn.blogspot.com

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  2. Não é um projecto fascinante, mas eu gostei. É simples. :)

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