A maioria das séries que envolvem um mistério principal andam com um sério problema na organização das suas prioridades. Passam 90% do tempo da série com stand-alones (episódios que não abordam a mitologia principal, mas sim a mitologia de apenas um episódio) e nos últimos 3 episódios recorrem a parte da resolução da questão principal, deixando sempre algo por revelar para que os espectadores fiquem com vontade de assistir à temporada seguinte. Por um lado compreende-se que basear uma série à volta de uma questão principal faz com que os espectadores não tenham vontade de ver um episódio aleatório se o apanharem na TV, pois não compreendem o que se passa. Contudo, pelo outro lado não conseguem manter uma audiência fixa, e os últimos episódios quase parecem uma recompensa ao estilo "agora, vocês que acompanharam a série toda, tomem lá um bocadinho daquilo que querem por serem bons espectadores".
Haven sofre desse mesmo mal e também de outros tantos. O argumento da série é baseado no livro de Stephen King "The Colorado Kid", que nos apresenta um mistério inicial com muitas perguntas e poucas respostas e que não se baseia na resolução do mistério, mas sim na forma de contar o que se passou e as várias implicações do modo de a contar. O problema é: como é que se faz disso uma série? A verdade é que The X-Files estipulou um critério de qualidade para o que se faz na área de acontecimentos estranhos e reuniu numa só série casos com explicação científica e explicação paranormal. Fringe optou pela variante da explicação científica. Haven enveredou pela paranormal e uma das coisas que mais confusão me fazia na série era o facto de que durante os dez primeiros episódios a personagem principal recusava lembrar-se que tudo o que acontecia naquela cidade era estranho e negava (e gozava com) as explicações paranormais até que a meio do episódio parecia lembrar-se que por lá havia a hipótese de haver algo fora do normal.
Falando então dos episódios em si, alguns deles, especialmente os iniciais, eram fracos. O elenco parecia ainda não ter encarnado bem a personagem, os argumentistas pareciam andar a tentar encontrar o verdadeiro rumo da série e a série não passava dos stand alones numa cidade onde acontecem coisas estranhas. Depois vieram os três episódios finais, em que finalmente percebemos que a série consegue ter um rumo relativamente interessante e até ficamos com vontade de ver a segunda temporada e esquecer que 90% dos episódios foram medianamente desinteressantes.
O elenco, não sendo extraordinário, não é terrível, destacando o actor Lucas Byant no papel de Nathan Wuornos especialmente pela sua capacidade de aparentar não conseguir sentir nada devido a uma teórica neuropatia idiopática. Emily Rose como Audrey Parker não fascina e Eric Balfour no papel de Duke poderia dar um pouco mais de si. As personagens mais cómicas são talvez as que vieram directamente do livro que deu origem à série, os dois jornalistas da cidade.
Haven não é uma má série, é uma série com o orçamento reduzido e mal trabalhada no seu início, mas que eventualmente poderá conquistar um papel nas séries de ficção científica desde que deixe de lado os episódios individuais e comece a trabalhar melhor a sua mitologia. A sua segunda temporada já foi confirmada e aguardo pela altura em que Haven tenha dias melhores.
Eu vou ser sincera.
ResponderEliminarGostei da série.
Concordo que existiram alturas em que deixou um pouco a desejar.
Mas vou ver a próxima temporada e esperar que me surpreenda pela positiva, pois tem bons personagens que podem dar boas histórias bem como a cidade que pode ser considerado um mistério só.
Mais uma boa crítica Ana.
Beijinho.
Eu até queria gostar da série, mas ora via casos muitos parecidos com alguns de Ficheiros Secretos ou ficava admirada com a resolução (confesso que odiei o segundo episódio, o que começa com a esfera metálica gigante a sair do sítio). Mas gostei dos últimos episódios e espero que vão por aí na próxima temporada e que pelo amor da santa a Audrey-seja-lá-ela-quem-for deixe de achar que há explicação científica para o que se passa naquela cidade.
ResponderEliminarObrigada :)