Título original: Shutter Island
Realização: Martin Scorsese
Argumento: Laeta Kalogridis e Dennis Lehane
Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max von Sydow, Michelle Williams e Emily Mortimer
Shutter Island é a arte da manipulação e sem dúvida que dá gosto ser manipulado por um filme assim.
A música, os planos, a luz, a montagem, todos os elementos conspiram para nos fazer ceder ao ambiente que o filme faz transbordar da tela e assim no fazer seguir nas direcções que a narrativa pretende seguir.
A música, os planos, a luz, a montagem, todos os elementos conspiram para nos fazer ceder ao ambiente que o filme faz transbordar da tela e assim no fazer seguir nas direcções que a narrativa pretende seguir.
No que toca a envolver-nos na desconfiança inata a um thriller psicológico, Martin Scorsese conseguiu o seu propósito sem grande dificuldade desde a primeira nota, mas conseguiu muito mais do que isso.
Ele conseguiu manter-nos no interior de uma trama que não se simplifica nem dá escapatórias ao público senão mesmo no seu final e mesmo aí tudo se adapta ao que ficou para trás sem precisar de um artifício de lógica.
Ele conseguiu manter-nos no interior de uma trama que não se simplifica nem dá escapatórias ao público senão mesmo no seu final e mesmo aí tudo se adapta ao que ficou para trás sem precisar de um artifício de lógica.
A resolução do filme surge porque o olhar se mantem fiel à dimensão pessoal do que sucede, à importância que tem o indivíduo.
A manipulação existe na construção cinematográfica, na forma como o filme é pensado estruturalmente, as suas partes como forma indispensável de uma experiência que seduz e ludibria o espectador sem ter de sacrificar a lógica do argumento.
A história é sobre o sofrimento de um homem. Uma história intricada, mas com um sentido incorrupto e um significado mais importante do que aquele que muitos esperarão.
A manipulação existe na construção cinematográfica, na forma como o filme é pensado estruturalmente, as suas partes como forma indispensável de uma experiência que seduz e ludibria o espectador sem ter de sacrificar a lógica do argumento.
A história é sobre o sofrimento de um homem. Uma história intricada, mas com um sentido incorrupto e um significado mais importante do que aquele que muitos esperarão.
Quando Teddy chega à ilha já traz uma certa perdição consigo, um desajustamento que é palpável mas cuja causa não se consegue precisar.
Magro demais e em claro desmoronamento físico, olha para a ilha como quem mede a dimensão do adversário numa luta de beco.
Esta personagem está em confronto com o mundo, um mundo confinado e de regras muito próprias, por isso mesmo mais opressivo ainda.
E como todas as personagens em confronto com o mundo, está afinal em confronto consigo mesmo, algo que chega a passar despercebido no seio da trama mas que retorna com força redobrada graças à inteligente e discreta última cena.
Magro demais e em claro desmoronamento físico, olha para a ilha como quem mede a dimensão do adversário numa luta de beco.
Esta personagem está em confronto com o mundo, um mundo confinado e de regras muito próprias, por isso mesmo mais opressivo ainda.
E como todas as personagens em confronto com o mundo, está afinal em confronto consigo mesmo, algo que chega a passar despercebido no seio da trama mas que retorna com força redobrada graças à inteligente e discreta última cena.
Teddy é DiCaprio em grande forma, a atirar-se ao sacrifício de uma personagem que parece estar sistematicamente a perder a substância que a define, sendo que é nesse processo que acabará por se concretizar quando tudo estiver exposto.
Uma interpretação assim não é simples, demasiado perto da caricatura que seria tanto a concepção como herói ou absoluto paranóico.
Mas ele demonstra que tem o estofo certo para o fazer.
Uma interpretação assim não é simples, demasiado perto da caricatura que seria tanto a concepção como herói ou absoluto paranóico.
Mas ele demonstra que tem o estofo certo para o fazer.
Num filme assim, tão dependente da sua resolução, o melhor que dele pode ficar é o nosso interesse em revê-lo, mesmo que o efeito surpresa nunca volte a ter o mesmo poder.
Revemo-lo porque nos interessam as personagens e porque, mesmo conhecendo o final, acabaremos por sucumbir à qualidade cinematográfica que demonstra que esta é, de facto, a arte do hipnotismo: por duas horas não desviamos os olhos do ecrã e nem por um momento regressamos ao mundo real.
Revemo-lo porque nos interessam as personagens e porque, mesmo conhecendo o final, acabaremos por sucumbir à qualidade cinematográfica que demonstra que esta é, de facto, a arte do hipnotismo: por duas horas não desviamos os olhos do ecrã e nem por um momento regressamos ao mundo real.
Já tinha vontade de ver o filme, mas a tua review deixou-me ainda mais empolgado! :)
ResponderEliminarAinda não estreou aqui mas tenho muita curiosidade de ver... Scorcese raramente decepciona.
ResponderEliminarO ambiente está espectacularmente bem recriado!
ResponderEliminarScorsese mostra-nos um registo não muito utilizado por si mas o cineasta revela-se muito bem.
DiCaprio também apresenta-se muito bem.
Ainda é cedo para proclamar obra-prima, mas quem sabe?
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Num ano onde DiCaprio participa em dois filmes com semelhanças (ambos são embustes) acho este Shutter Island mais honesto e com mais supremacia que o filme de Nolan, o Inception.
ResponderEliminarHá cenas que só á segunda vez se notam como é o caso da mulher interrogada que lhe pede um copo de água e quando esta faz o gesto de beber... não tem copo nenhum na mão. Scorcese faz este plano tão rápido e magistralmente bem feito que passará desapercebido. Visualmente é um filme belissimo, com alguns momentos de carinho pela imagem (a cena da casa a arder e ele com a mulher... que se desvanece), onde trata com delicadeza os elementos que coloca em cena (a cena dos filhos na água é dada a ver da mesma maneira instintiva que faria para ver - aqui e em muitos outras situações, a montagem é mesmo meticulosa e bem definida).
É um grande filme de Scorcese, bem melhor que o The Departed (que não me agradou nada - o original deste remake deu-me muito mais impacto) e deveria ser com um filme assim como este, que ele mereceria o Oscar de melhor realizador, pois Shutter Island é um filme "inteiro", que consegue ainda aliar bom cinema ao factor comercial.
Excelente review. Well done!!!
"Shutter Island": 5*
ResponderEliminarÉ um filme obrigatório. Com o seu desenrolar vamos descobrindo tudo e isso é-nos mostrado de uma forma magistral.
Cumprimentos, Frederico Daniel.