Review: Gilmore Girls

Gilmore Girls era aquela série que tinha tudo para correr mal. Primeiro que tudo, o nome que facilmente propiciava o pensamento "série de gaja". Depois tinha a estória principal: a vida de uma mulher que teve uma filha aos 16 anos e mora numa vilazinha, a vida da filha na escola, a relação com as restantes personagens. Sim, de facto à primeira vista Gilmore Girls tinha tudo para ser apenas mais uma série. Mas depois vieram as personagens, o humor dos mais inteligentes que se viu nos últimos tempos e, claro, Lauren Graham.

Gilmore Girls é uma série que pode ser facilmente diminuída por descrições e críticas (acreditem em mim, esta é a terceira ou quarta vez que tento escrever uma crítica a esta série). Dizer que o humor é inteligente é pouco, porque metade das vezes uma pessoa tem vontade de parar a série a meio e ir pesquisar o que alguma personagem acabou de referir. As referências pop, culturais (com grande destaque às literárias) e sociais são tantas que a argumentista Amy Sherman-Palladino era conhecida entre o elenco por ser a única a compreender todas as piadas ditas na série.

Mas nem só de piadas se faz a série, ou estaríamos simplesmente perante uma comédia. Longe disso, esta série é o acompanhar de várias personagens sólidas, tão perto de pessoas comuns que facilmente o espectador consegue sentir empatia quase imediata pelo menos com algumas. Pode-se também dizer que a própria vila de Stars Hollow é uma personagem por si mesma, já que é de tal modo pitoresca e única que ao fim de poucos episódios não se consegue imaginar a acção a decorrer num espaço diferente. A verdade é que não só as personagens fazem parte de Stars Hollow, como Stars Hollow faz também parte das personagens.

Falando de personagens, a lógica aponta-nos imediatamente na direcção das Gilmore: Lorelai e Rory. Pessoalmente sempre achei que Alexis Bledel (Rory) teve muitas vezes um desempenho morno, começando a melhorar na terceira temporada, e sendo quase sempre ensombrada pelo desempenho brilhante e electrizante-movido-a-cafeína de Lauren Graham. Contudo, falta ainda uma peça para completar as "Gilmore Girls": Kelly Bishop (Emily Gilmore), que apesar das fracas aparições iniciais se torna uma peça imprescindível neste quadro. De realçar ainda são os papéis de Melissa McCarthy (Sookie), Keiko Agena (Lane) e Sean Gunn (Kirk).

Gilmore Girls não é uma série que nos deixe ansiosos pelo episódio seguinte, mas ainda assim é uma série que facilmente se torna viciante. Há que acrescentar que as melhores temporadas da série são facilmente a 4ª e 5ª temporadas, e que a última deixa uma espécie de gosto amargo, não só por ser a última mas também pela saída precoce da argumentista (e por mais que tenham tentado manter o nível da série, não conseguiram).

Por terras lusas a série começou por dar nas tardes de sábado da Sic, tendo posteriormente sido realocada para as 3h da manhã. Anos mais tarde foi a Fox Life que começou a passar a série e encontra-se agora a ser emitida na Sic Mulher. Nos DVDs não teve muito mais sorte: apenas cinco das sete temporadas foram editadas em DVD, sem grande conteúdo em termos de extras (e contudo estão todas nas minhas prateleiras).